São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Brasil rejeita verba antidroga dos EUA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Nelson Jobim (Justiça) comunicou ontem oficialmente ao embaixador norte-americano, Melvyn Levitsky, que o governo brasileiro rejeita a ajuda de US$ 600 mil dos EUA, a fundo perdido, para combate ao tráfico de drogas.
Jobim afirmou, por intermédio de sua assessoria de comunicação social, que "US$ 600 mil é uma quantia que não faz diferença".
Apesar da rejeição da ajuda financeira, o acordo entre Brasil e EUA para combate às drogas permanece, incluindo treinamento de policiais e troca de informações.
O ministro queria mais dinheiro. Não deixou claro quanto o governo brasileiro considera o mínimo aceitável.
Se todo o acordo fosse denunciado, isto é, rejeitado, os agentes do DEA (Drug Enforcement Agency) teriam de deixar o país imediatamente.
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, disse que a decisão do governo brasileiro foi "um ato de gestão do ministro (da Justiça), que deve ter tido as suas razões." "O presidente (Fernando Henrique Cardoso) tem confiança nas razões que possam ter levado o ministro a esta decisão", disse.
Encontro
Ontem, pela manhã, houve uma reunião entre Levitsky, o secretário-executivo do ministério, Milton Seligman, e o diretor da PF, Vicente Chelotti.
Após o encontro, a embaixada divulgou nota: "Ficamos surpresos e desapontados ao lermos na imprensa os comentários de autoridades do governo brasileiro que colocaram em questão a utilidade do programa-conjunto de cooperação e assistência, de longos anos de existência, para o combate ao tráfico e uso de drogas".
"Não fomos consultados ou avisados previamente sobre essa opinião", afirma a nota. O jornal "O Globo" noticiou na edição de ontem a rejeição brasileira.
A verba de US$ 600 mil foi anunciada recentemente porque se refere ao ano fiscal de 96-97, que começa em setembro. No ano anterior, os EUA haviam passado mais dinheiro ao Brasil (US$ 800 mil).
Países produtores
Entre setembro de 94 a setembro de 95, o Brasil recebeu US$ 200 mil. No ano seguinte, além de aumentar a verba, o governo dos EUA concordou em desvincular sua aplicação a aeroportos de saída do Brasil em direção aos EUA.
O Ministério da Justiça preferiu aplicar o dinheiro em postos da Polícia Federal nas fronteiras terrestres com países produtores de drogas.
A ajuda norte-americana tem se concentrado nos produtores. No ano fiscal de 95/96, a Bolívia recebeu US$ 50 milhões e 15 aviões. A Colômbia, US$ 30 milhões e seis helicópteros. O Peru, US$ 31 milhões. A verba total dos EUA para combater o narcotráfico na América Latina é de US$ 116 milhões.
O orçamento anual da Polícia Federal em 96 foi de R$ 354 milhões e deve ser repetido em 97.

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