São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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EUA ameaçam com sanção comercial

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O governo dos EUA iniciou ontem processo de investigação da política automotiva brasileira que pode resultar na aplicação de sanções comerciais contra o país.
O embaixador do Brasil em Washington, Paulo Tarso Flecha de Lima, disse estar "acompanhando com desconforto essa notícia". Segundo ele, "não há nenhum interesse de empresas norte-americanas prejudicado por essa questão".
Em Brasília, o governo disse ter tomado conhecimento do comunicado de imprensa dos norte-americanos sobre o assunto e que "o regime automotivo brasileiro...visa justamente ao incremento da produção, do comércio e dos investimentos no setor e representa um estímulo às exportações de automóveis e de autopeças dos EUA para o Brasil".
A responsável pelo comércio exterior do governo dos EUA, Charlene Barshefsky, afirmou ontem ao justificar a medida que o programa "afeta negativamente a exportação de automóveis e autopeças dos EUA para o Brasil".
O ministro das Relações Exteriores, Luis Felipe Lampreia, esteve com Barshefsky no dia 20 de setembro. Depois do encontro, disse em entrevista coletiva que os EUA ainda não haviam adotado uma posição a respeito da política automotiva brasileira, que está sendo debatida na Organização Mundial do Comércio, mas que não esperava hostilidade porque ela não afeta os interesses norte-americanos.
Barshefsky, 45, vem irritando diplomatas brasileiros há algum tempo. Em 8 de março último, em Bogotá, ela se referiu à política do Brasil sobre a integração econômica das Américas em termos muito duros, entre eles "relapsia substantiva, má fé tática e irresponsabilidade processual".
Divergências sobre como encaminhar a integração continental são apenas um dos problemas que existem na agenda entre EUA e Brasil, apesar do discurso oficial afirmar que as relações entre os dois países nunca foram melhores.
O Brasil vai ter em 1996, pelo segundo ano seguido, déficit em sua balança comercial com os EUA (US$ 1,6 bilhão em 1995 e quantia similar este ano).
Apesar disso, os esforços brasileiros para que os EUA alterem políticas protecionistas em setores vitais para a economia brasileira, como suco de laranja, aço, calçados e têxteis, têm sido infrutíferos.
Lampreia disse que nesta semana serão apresentados argumentos ao governo dos EUA com o objetivo de que se suspendam tarifas adicionais impostas à importação de produtos siderúrgicos brasileiros mas há ceticismo generalizado em relação às chances de sucesso a partir dessas consultas.
O grande contencioso entre os dois países nesta década -a questão da propriedade intelectual- foi resolvida este ano da maneira mais satisfatória possível para os EUA. Nos últimos três anos, a economia brasileira também se abriu em conformidade com as expectativas norte-americanas.

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