São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Bata na madeira

THALES DE MENEZES

Rolf Gahter é uma figuraça. Alemão, quarentão, do tamanho de uma porta (altura e largura) e falando um portunhol tosco que é duro de entender.
O alemão procurou este colunista. Queria contatos no Brasil que pudessem ajudá-lo na busca que ele empreende atrás de relíquias: raquetes de madeira, que não são mais fabricadas.
Gahter não é um colecionar de raquetes antigas. Na verdade, ele trabalha para o Centro de Tênis de Berlim, um moderno complexo de treinamento mantido pelo governo alemão.
Mesmo sem entender patavina de tênis, Gahter cumpre uma tarefa importante na formação dos sucessores de Boris Becker, Steffi Graf e Michael Stich.
Os técnicos de Berlim querem fazer seus pupilos começarem a jogar com as antigas raquetes de madeira, porque acreditam que, com elas, o tenista imprime mais sutileza no seu toque de bola, principalmente no voleio.
Historicamente, os alemães estão cobertos de razão. Jogadores formados até a década de 70 sempre demonstraram, na média, um controle de bola superior às gerações mais recentes.
Para ilustrar, dá para pegar o caso de Sampras. O número um do mundo pode ter um voleio mortífero, mas é sempre algo próximo de uma cortada de vôlei. Um golpe de explosão.
Um tenista mais velho, como Cássio Motta, por exemplo, exibe sutileza, precisão milimétrica e uma maneira de "abafar" a bola num voleio. Algo que é praticamente impossível de ser visto num jogo de Sampras.
Essa geração de saque-canhão existe, entre outras coisas, por causa das raquetes modernas. Além de fornecerem muita potência, elas "consertam" golpes imperfeitos, porque a flexibilidade delas empurra a bola.
Os meninos alemães que treinarem primeiro com raquetes de madeira vão ter que aprender a dar todos os golpes com muita precisão. Do contrário, a bolinha não sai perfeita.
Graças ao simpático Gahter.

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