São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Jerzy Grotowski apresenta seu trabalho a artistas paulistanos

Pesquisador e ex-encenador defende a "arte como veículo"

DA REDAÇÃO

O pesquisador teatral e ex-encenador polonês Jerzy Grotowski iniciou anteontem a programação que cumprirá neste mês em São Paulo, em promoção do Centro de Pesquisa Teatral do Sesc, coordenado por Antunes Filho.
Grotowski esboçou os conceitos de sua pesquisa e apresentou o vídeo "Art as Vehicle", amostra do trabalho que desenvolve no Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards, centro de pesquisa que fundou na Itália em 86.
Grotowski falou, para uma platéia composta predominantemente por atores e encenadores -Antunes Filho, Luís Melo, Eduardo Tolentino, Lélia Abramo, Celso Nunes, Enrique Diaz, Vera Holtz, Ester Góes, Sérgio Mamberti, Cacá Carvalho, Irene Ravache, Marisa Orth, Giulia Gam-, sobre "algo que o artista faz para ele mesmo, e não para o espectador".
Começou definindo seu centro de pesquisa: "É um instituto paracientífico que se ocupa da arte performática que não tem por objetivo o espectador".
Grotowski lembrou que, antes desse estágio, foi também um "diretor clássico" que, embora já não praticasse teatro convencional, mas sim de pesquisa, também produzia espetáculos em que era importante passar uma mensagem.
Mesmo então, o objetivo não era interpretar para o espectador, mas diante dele. "Interpretar para o espectador limita o aspecto artístico do ator, torna-o dependente do espectador", afirmou.
A etapa seguinte foi suspender a prática da encenação. Nessa fase, foi fundado o Workcenter.
"A composição e a montagem não são destinadas ao espectador, mas ao processo interior dos que ali trabalham", explicou, definindo a arte como um veículo para o autoconhecimento.
Seu trabalho é baseado em cantos antigos -gregos, egípcios, israelenses, sírios, africanos. Durante uma hora, o vídeo expõe cinco atores se movimentando e entoando cantos ritualísticos.
Antes de mostrar o vídeo, ressaltou: "Não há improvisação em nosso trabalho. Ele é absolutamente preciso, cada detalhe é conservado a cada encenação".
O pesquisador atacou a improvisação: "É primário, é como o vôo de uma galinha -ela sempre cai".
Ao final da exposição de Grotowski, foi aberto o debate. Perguntado sobre o uso do termo "paracientífico", respondeu: "Se o termo incomoda, simplesmente o abandone. As palavras são sempre apenas palavras".
"A arte, em sua opinião, é um meio de atingir exatamente o quê?", foi outra pergunta.
Talvez cheguemos apenas a uma certa maneira de cantar bem", respondeu Grotowski. "Os alquimistas queriam descobrir como fazer ouro a partir de chumbo. Nunca conseguiram, mas um deles descobriu a porcelana. É preciso ver a relatividade das coisas."

O evento prossegue com novo encontro com Grotowski no dia 7, no CineSesc, e simpósio entre os dias 14 e 16, no teatro Sesc Anchieta. Informações e reservas: tel. (011) 256-2322

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