São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Guerra cibernética vai ao ar

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

As imagens que apareceram na TV americana são impressionantes: um grupo de oficiais do Exército de olho em monitores gigantes avaliando o que foi o primeiro exercício militar completamente simulado por computador.
Estavam lá o deserto, os tanques apoiados por helicópteros Apache, o avanço da infantaria contra bunkers fortemente defendidos pelo inimigo.
O Pentágono está conquistando de vez o ciberespaço. Tudo a ver com os videogames, que, sempre achamos, eram apenas brincadeira de criança.
Para os políticos americanos, ficou muito mais fácil vender ao público a guerra cirúrgica, precisa, aparentemente indolor que se viu nas batalhas do Golfo. A imagem do soldado ferido que dominou a cobertura da TV do Vietnã deu lugar aos vídeos em que bombas teleguiadas caíam sobre alvos em Bagdá. Nenhuma gota de sangue visível.
A essa altura, o Pentágono diz que já criou vários centros da chamada "infowar", ou guerra informatizada, para treinar especialistas. Eles vão trabalhar com objetivos que, no momento, ainda parecem coisa de ficção.
A idéia básica é atacar o inimigo com invasores silenciosos, capazes de causar mais danos a longo prazo do que uma frota de bombardeiros B-52. Vírus de computador, por exemplo, seriam introduzidos no sistema telefônico do adversário para causar o colapso das ligações.
Aviões dotados de equipamento eletrônico causariam interferência nas comunicações do exército inimigo, disparando mensagens para confundir a tarefa dos generais.
Notícias falsas em nome dos líderes locais seriam plantadas nas emissoras de TV.
Bombas eletromagnéticas, colocadas em locais estratégicos, seriam capazes de "detonar" os computadores de bancos e Bolsas de Valores.
Quem assistiu ao filme "Jogos de Guerra" tem uma noção exata do potencial que os computadores têm para a estratégia militar.
Naquele caso, a brincadeira de um garoto quase acabou numa guerra nuclear. A idéia central do script de Hollywood, cheio de bobagens e exageros, hoje em dia é levada cada vez mais a sério.
Foram as peripécias dos hackers, afinal, que convenceram o governo americano a estudar o assunto. O Pentágono acredita que todo dia há pelo menos 500 tentativas ilegais de acesso a computadores ligados direta ou indiretamente às Forças Armadas daqui.
Um estudo oficial concluiu que os Estados Unidos são o país mais vulnerável do mundo à guerrilha informatizada. Uma conclusão óbvia, num lugar onde quase tudo passa pelo computador, dos semáforos nas ruas ao tráfego de trens.
A preocupação dos militares é com o baixo custo das operações do gênero. Qualquer país de Terceiro Mundo pode financiar a formação de células dedicadas à sabotagem eletrônica a partir de informações obtidas na própria Internet. A suposta vantagem do Pentágono na "infowar", assim, não é tão grande quanto parece.
Um especialista do ramo deu entrevista pedindo que o governo não tente colocar na cadeia os hackers americanos que forem pegos.
"Deveriam ser contratados para prestar serviços ao Pentágono contra a espionagem externa", sugeriu ele. Em outras palavras, se você não pode com o inimigo, junte-se a ele.

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