São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
Próximo Texto | Índice

Arafat e Netanyahu conversam a sós

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, e o presidente da Autoridade Palestina, Iasser Arafat, conversaram a sós por cerca de três horas ontem na biblioteca da Casa Branca, sede do governo dos EUA.
Nenhum acordo foi anunciado. Mike McCurry, porta-voz do presidente norte-americano, Bill Clinton, disse que a discussão entre Netanyahu e Arafat foi "sóbria, mas muito construtiva".
Embora ainda não estivesse confirmado no início da noite, esperava-se que Netanyahu e Arafat jantassem juntos a sós. A conferência está programada para prosseguir hoje, e aguarda-se a divulgação de comunicado conjunto.
Não estava planejado que os dois ficassem sozinhos, apenas com seus intérpretes. Clinton, que promoveu o encontro, estava com os líderes israelense e palestino e com o rei Hussein (Jordânia) quando o almoço entre eles teve início na ala residencial da Casa Branca.
Os quatro já haviam conversado no Salão Oval, o escritório de Clinton. Netanyahu e Arafat apertaram as mãos e trocaram amabilidades na Sala Roosevelt antes de entrarem no Salão Oval.
Depois, Clinton, Netanyahu, Arafat e Hussein receberam jornalistas por alguns minutos. O primeiro-ministro israelense disse que seu governo iria cumprir o acordo de paz com os palestinos.
O presidente norte-americano afirmou que seu papel é "tentar ajudar as pessoas a se encontrar".
Clinton também conversou a sós com cada um deles: com Arafat por uma hora, com Netanyahu por 45 minutos e, na véspera, com Hussein por cerca de 70 minutos.
O presidente do Egito, Hosni Mubarak, recusou o convite de Clinton para se juntar à reunião de cúpula para demonstrar sua insatisfação em relação ao comportamento do governo de Israel na Cisjordânia e na faixa de Gaza, territórios árabes ocupados por Israel em 1967 que passaram parcialmente para o controle limitado da Autoridade Palestina em 1994.
O porta-voz McCurry disse que "muita frustração, desconfiança e irritação permearam a atmosfera (quando Netanyahu e Arafat começaram a conversar), mas as discussões significaram um grande avanço no restabelecimento da noção de confiança" entre os dois.
Clinton disse que estaria à disposição dos líderes israelense e palestino caso sua presença fosse necessária. Segundo McCurry, Clinton não vai pressionar ninguém: "Pressões não funcionam no processo de paz no Oriente Médio; nunca funcionaram".
Mas o ministro do Comércio de Israel, Natan Sharansky, disse que Clinton pressiona Israel a estabelecer uma data para a transferência de Hebron, que deveria ter passado ao controle palestino em março. "Estamos dizendo que isso é impossível."
O candidato da oposição à Presidência dos EUA, Bob Dole, pediu a Clinton para não "encurralar" ou isolar Netanyahu, com quem o presidente americano tem divergências ostensivas. Netanyahu vai se encontrar com Dole antes de deixar os EUA de volta a Israel.
Hussein propôs a Clinton a criação de uma comissão internacional para arbitrar a disputa entre Israel e palestinos a respeito de um túnel aberto nas proximidades de um local sagrado para os islâmicos, em Jerusalém.
Os palestinos protestaram contra uma segunda entrada para esse túnel, o que provocou incidentes que causaram a morte de pelo menos 72 pessoas na semana passada.
Clinton disse que a proposta de Hussein é um dos vários assuntos que serão discutidos entre Netanyahu e Arafat.
Netanyahu foi eleito em maio e em agosto enfureceu os palestinos ao permitir novas colônias judaicas na Cisjordânia.

Próximo Texto: Mubarak faz críticas a Israel
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.