São Paulo, sexta-feira, 4 de outubro de 1996
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Sol LeWitt constrói estrelas de cores

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sol LeWitt constrói estrelas
O que você vê são sete enormes estrelas, cada uma com um número diferente de pontas, pintadas na parede com espectros coloridos, como se irradiassem luzes de comprimentos de onda diferentes.
Mas a arte de Sol LeWitt não é apenas o que se vê. Sua arte é sobre idéias, não sobre a forma. Por trás da construção dessa parede, como por trás de toda forma concebida por ele, existe um pensamento coerente, racional e sistemático.
Nascido em 1928 em Hartford, Connecticut, de uma família russo-judaica, LeWitt só começou a ficar conhecido aos 38 anos.
Nessa época, em Nova York, começou a criar objetos de arte que pudessem reduzir ao máximo a forma, usando uma idéia rigorosa estruturada em um mínimo de recursos.
Assim, ao lado do trabalho de outros artistas como Donald Judd e Dan Flavin, LeWitt começou a trabalhar usando cubos, linhas e apenas as cores preto e branco.
Seguindo o processo de produção em série industrial, eles construíam a partir de fórmulas pré-escritas, feito bulas de remédios que poderiam ser executadas em série, por outras pessoas. Foram chamados de minimalistas.
LeWitt levou esse ideal adiante, a ponto de, entre 67 e 69, escrever textos que se tornaram grandes referências da história da arte contemporânea. Nesses textos, usou pela primeira vez, o termo "arte conceitual", que colocava o foco da arte no conceito, e não no produto final e formal. "A idéia se torna a máquina que produz arte" tornou-se o slogan de sua teoria.
Quando, em 68, começou a criar projetos no papel, para que outras pessoas pudessem interpretá-los, desenhando e pintando diretamente na parede, ele mudou a definição tradicional de arte.
A partir dos anos 80, LeWitt permitiu que seus sistemas tão rigorosos fossem adquirindo mais subjetividade. Começou a usar cores primárias, além do preto. Interessou-se pela combinação dessas cores em camadas.
Assim surgiu a série de sete estrelas -de dois metros de diâmetro cada- que estão na Bienal. Com números de pontas entre três a nove, representam uma forma geométrica que vai se somando numa progressão numérica.
Para construir esse projeto, o assistente de LeWitt, Anthony Sansotta, contou com o auxílio voluntário de oito artistas brasileiros.
LeWitt faz com que seus assistentes pintem a obra diretamente na parede, indicando no papel as linhas e iniciais das cores a serem aplicadas por camadas.
Nesse processo, ao receitar uma prescrição, LeWitt dá à arte um aspecto democrático: qualquer pessoa, ao ler o projeto, pode executá-lo. Outra questão importante é a efemeridade: um projeto criado na parede foi feito para ser pintado por cima depois, sem preocupação de ficar para a eternidade.

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