São Paulo, sexta-feira, 4 de outubro de 1996
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Brasil que sai das urnas vai pressionar governo FHC

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O deputado Arthur Virgílio Neto (AM), secretário-geral do PSDB, comemora o resultado eleitoral que, em sua opinião, "torna o PSDB um partido mais forte", e transforma sua avaliação em pressão pelo coração do presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Com os resultados, vamos poder dizer ao presidente: seja o nosso Felipe González e monte a partir do seu partido, confiável, denso e reformista, as alianças necessárias", diz o deputado.
A frase (ou bravata) de Arthur Virgílio é o sinal mais evidente de que o pleito municipal acirrou mais a surda batalha entre o PSDB e o PFL pelo coração de FHC.
Reconhece, do lado pefelista, seu líder na Câmara, o deputado Inocêncio Oliveira (PE): "Objetivamente, não existe nem poderia existir essa disputa. Mas subjetivamente existe, porque há uma ciumeira danada do PSDB em relação ao PFL, achando que o programa do governo é do PFL".
Avisa até mesmo o senador Antonio Carlos Magalhães (BA), principal cacique pefelista, apesar de todos os cuidados que adota na linguagem, para não machucar as perspectivas de seu filho, Luís Eduardo:
"É um equívoco pensar que o PFL aceita tudo em função de um projeto do presidente".
Cantando vitória
ACM acha que FHC pode comemorar vitória, no pleito municipal, se somar os votos dos dois principais partidos de sua base parlamentar, PFL e PSDB.
Mas avalia que, sem o PFL, o resultado teria sido pouco menos que desastroso.
Quanto ao PFL, não há dúvida de que sai das urnas mais forte, opinião manifestada até por um cientista político lúcido e independente, como Wanderley Guilherme dos Santos:
"O PFL sai do gueto Nordeste, porque soube fazer alianças".
É uma alusão ao fato de que o partido vai para o segundo turno pelo menos no Rio de Janeiro, entre outras cidades importantes do Sul-Sudeste, fenômeno desconhecido para o PFL.
O acadêmico adverte, de qualquer forma, que esse resultado, bem como o crescimento também do PT, "está dentro da ordem natural das coisas".
Inocêncio Oliveira, como é natural, vai muito mais longe e já olha para 1998:
"O PFL sai muito forte e, como a próxima eleição é vinculada, o partido que tiver mais estrutura vai conduzi-la para seus candidatos que, logicamente, terão mais chances".
Mas o PSDB também canta quantidade e qualidade. Salta de 370 prefeitos para entre 1.000 e 1.200 e "se adensa nas 250 maiores cidades", contabiliza Arthur Virgílio.
A guerra de avaliações não termina com o primeiro turno. O secretário-geral do PSDB reconhece que seu rival/aliado cresceu, mas provoca: "Fica para eles o grande desafio de nos vencer no Sudeste. Por mais que se melindrem, vamos com tudo para o segundo turno no Rio de Janeiro".
A batalha verbal pode, no entanto, ser inócua, se se acreditar em duas das principais lideranças do PSDB e do PFL.
"Não acho que, na segunda metade de seu mandato, o presidente vá adotar uma atitude inversa da que teve até agora", diz Mário Covas, governador tucano de São Paulo.
O prefeito pefelista do Rio, Cesar Maia, descarta igualmente a hipótese de que FHC adote o PSDB e abandone o PFL: "O contato de um acadêmico com a direção do PFL conforta muito, porque elimina variáveis e sabe-se que, uma vez tratada uma coisa, ela se cumpre, sem o temor de uma bola pelas costas".
Tanto Covas como outro político de grande quilometragem nas estradas eleitorais do país, o ex-presidente José Sarney (PMDB), minimizam os efeitos de todo o evento eleitoral -e não apenas da ciumeira PSDB/PFL -sobre o cenário nacional.
Covas: "Não creio que haverá alterações dramáticas. A eleição pode, no máximo, ter alguma consequência de natureza mais pessoal do que partidária".
Sarney: "É difícil tirar de uma eleição municipal a interpretação de que modifica o panorama nacional. Pode, no máximo, mostrar tendências e, assim mesmo, apenas nas capitais".

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