São Paulo, sábado, 5 de outubro de 1996
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Derrota de FHC em São Paulo altera perspectiva de aprovar a reeleição

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

A eleição municipal só terá consequências sobre o panorama sucessório presidencial se terminar por interferir na votação da emenda que permite a reeleição, inclusive para os atuais mandatários.
Até aliados do governo Fernando Henrique Cardoso, como o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), acreditam que a batalha eleitoral paulistana provocou estragos nas perspectivas de aprovação da emenda.
Motivo: o prefeito paulistano, Paulo Maluf, irritado com a ofensiva verbal de Sérgio Motta, ministro das Comunicações, está mais do que nunca disposto a trabalhar contra a reeleição.
A proposta pode ser aprovada mesmo sem os votos do PPB (95), mas, é claro, fica muito mais difícil.
Pior: o destempero de Motta provocou receios até no PFL, que teme entregar a reeleição de bandeja para FHC e ficar, depois, sob o fogo da metralhadora giratória do ministro.
"Lipoaspiração"
Mas esse receio tem um contraponto poderoso, apontado por uma ascendente estrela do próprio PFL, o prefeito César Maia, do Rio.
O PFL, acha o prefeito, é refém da reeleição, por não ter candidato próprio viável. Por isso mesmo, se não contar com a candidatura FHC, como perspectiva de poder, "sofrerá uma lipoaspiração por parte de Maluf", acha Maia.
Fora a possibilidade de que as feridas de 3 de outubro interfiram na questão da reeleição, é preciso esperar o resultado final para se avaliar mais concretamente o efeito da eleição municipal para as principais figuras envolvidas na sucessão de FHC.
"Esta eleição será examinada com lupa por todo o mundo", acha o líder do PFL na Câmara, Inocêncio de Oliveira (PE).
É uma alusão ao fato de que há inúmeras maneiras de se fazer as contas sobre os resultados.
Mas uma delas já parece mais visível: o mau resultado do PMDB, o que interfere nos planos de dois presumíveis candidatos, os ex-presidentes José Sarney e Itamar Franco.
Itamar tem convite do PMDB para voltar ao partido e, se voltar, Sarney já avisou que não conseguirá disputar com ele a indicação para a candidatura presidencial.
Mas, com o magro resultado peemedebista, o previsível é que Itamar relute em voltar a seu antigo partido.
Sobem os gaúchos
É uma situação exatamente oposta à do PT, partido que está se saindo bastante bem no pleito municipal.
Com isso, ganha mais cacife para a negociação, ainda muito embrionária, com outros grupos e personalidades para a formação de uma ampla "frente popular", com vistas a 1998.
O PT entrou na negociação com a tese de que o candidato presidencial pode ser qualquer personalidade de esquerda que tenha viabilidade eleitoral.
Mas o resultado eleitoral parece demonstrar que todas as personalidades de esquerda com viabilidade eleitoral estão no próprio PT.
Ainda mais que a terceira vitória consecutiva do partido em Porto Alegre catapultou dois nomes do PT gaúcho, Tarso Genro e Olívio Dutra (este, de resto, o preferido de Lula para a candidatura presidencial).
Nesse cenário, murcham as possibilidades, já relativamente remotas, de que Ciro Gomes, ex-ministro da Fazenda de Itamar e seu representante nas negociações com a esquerda, ganhe espaço para disputar a Presidência.
No PSDB, aliás, houve uma deslocação do eixo de poder. O partido nasceu e cresceu em torno de paulistas (FHC, Covas, Serra etc) e cearenses (Tasso e o próprio Ciro).
O PSDB perdeu tanto em São Paulo como em Fortaleza, o que enfraquece os dois lados até aqui predominantes.
Sobe, em consequência, a estrela de Eduardo Azeredo, o governador mineiro, que levou seu candidato ao segundo turno em Belo Horizonte.
Mas, se o candidato de Azeredo perder no turno final, o PSDB definitivamente fica com um só candidato forte para 98, o próprio FHC.

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