São Paulo, sábado, 5 de outubro de 1996
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Desacordo impede combate a enchentes

ANDRÉ FONTENELLE
DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de sintonia entre Estado e município impede a realização de obras em conjunto que previnam enchentes no próximo verão.
As inundações que atingiram São Paulo anteontem mostraram que a cidade não está preparada para o período de chuvas.
"Vamos ter que conviver muitos anos com enchentes", prevê Ivan Whately, superintendente do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), órgão estadual.
Somadas, as obras que estão sendo feitas atualmente pelos dois governos, ou que estão sendo planejadas, representam um investimento de mais de US$ 1 bilhão.
Mas estão sendo feitas sem coordenação e sem que haja discussão de novas soluções. Também não há obras de emergência.
Responsabilidades
O município cuida das obras nos córregos; o Estado, nos rios que atravessam mais de um município. Essa divisão dá origem à discussão quanto a responsabilidades.
Ontem, o prefeito Paulo Maluf voltou a responsabilizar o Estado pela inundação. "O Estado não fez nada no Tietê, nem se viu nunca mais uma draga desassoreando o Tietê", disse.
Desde o ano passado, os dois governos vêm discutindo um plano de obras para o Tietê, sem chegar a um acordo final.
A Prefeitura de São Paulo tem um programa de canalização de córregos. Os detratores dessa solução afirmam que ela evita enchentes à beira dos córregos, mas aumenta a velocidade com que a água chega aos rios -ou seja, apenas transfere o problema de lugar.
O Estado, por sua vez, tem uma obra de contenção de margens no rio Tamanduateí. O aprofundamento do Tietê e outras obras estão em licitação.
Uma alternativa são reservatórios que contenham a água das chuvas e retardem sua chegada aos rios, evitando o transbordamento.
Esse é o princípio dos "piscinões" que estão sendo construídos pela prefeitura. O Estado também estuda a criação de reservatórios ao longo do rio Tamanduateí.
Outra solução apresentada pelos especialistas é a prevenção, atacando a origem do problema: a impermeabilização do solo.
Normalmente, parte da chuva é absorvida pelo solo ou pela vegetação, evitando a sobrecarga dos rios. Com a urbanização mal planejada, a água não é absorvida e chega rapidamente aos rios, causando as enchentes.
A responsabilidade pelo aperfeiçoamento da legislação nesse setor cabe ao município.
Ivan Whately teme que a urbanização recente da região do Alto Tietê agrave a situação nos próximos anos. "Se a gente não mantiver essas áreas como reservatórios, vai ser uma catástrofe", adverte.

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