São Paulo, sábado, 5 de outubro de 1996
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Exportação empaca, apesar do incentivo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo já prevê que as exportações neste ano terão crescimento menor que o verificado em 1995, quando totalizaram US$ 49,62 bilhões e registraram aumento de 6,8% em relação a 1994.
"Podemos imaginar, para 1996, uma proximidade com os resultados obtidos no ano passado", disse ontem Maurício Cortes, secretário de Comércio Exterior do MICT (Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo).
Essa projeção segue-se a uma série de medidas destinadas a estimular as exportações.
Nos últimos meses, o governo desonerou as exportações do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), anunciou medidas para facilitar o financiamento do setor e criou linha de crédito do BNDES de US$ 1 bilhão.
Até o momento, eram as importações crescentes que ameaçavam a balança comercial. Com o fraco desempenho das exportações, o governo perde dos dois lados.
Ontem, ao anunciar a queda das exportações em setembro, Cortes avaliou que haverá novos resultados assim nos próximos meses.
Exportação em queda
Cortes avaliou que as exportações do mês passado, que totalizaram US$ 4,115 bilhões, tiveram "desempenho sofrível". A cifra representa queda de 6,07% em relação a agosto e de 1,25% comparada com o mesmo mês de 1995.
A média diária de exportações no mês, de US$ 196 milhões, ficou 5,95% abaixo da registrada em setembro de 1995 e 1,50% menor que a de agosto de 1996.
Nas duas primeiras semanas de setembro, os exportadores atrasaram os embarques de produtos, como a soja, à espera da confirmação da isenção do ICMS.
No último dia de setembro, a implantação de novo sistema operacional nas aduanas também dificultou os embarques. Esses dois fatos, segundo Cortes, teriam prejudicado as exportações no mês.
A Folha apurou que os dados apresentados ontem reforçam as estimativas de déficit na balança comercial (exportações menores que importações) de cerca de US$ 550 milhões em setembro.
Otimismo inicial
Se confirmado esse cálculo, o déficit até setembro chegará a US$ 1,48 bilhão e empurrará o saldo negativo do ano para algo entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3 bilhões.
O próprio Ministério da Fazenda chegou a admitir, em setembro, que o ano fecharia com déficit entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões.
No início do ano, a versão era mais otimista. O governo declarou que estimava equilíbrio nas contas comerciais em 1996.
No início de agosto, depois de quatro déficits mensais no ano, o Ministério da Fazenda começou a reconsiderar a previsão de saldo negativo para 1996.
A soma das exportações até setembro resulta em US$ 35,85 bilhões -aumento de 4,92% em relação ao mesmo período de 1995.
Até agosto, as importações totalizaram US$ 32,68 bilhões. Em agosto, o volume chegou a US$ 4,67 bilhões e, em setembro, não se espera resultado menor.
A tendência é de aumento das importações nos próximos meses, quando o poder aquisitivo dos trabalhadores cresce com o pagamento de abonos e do 13º salário.
No ano passado, diante de perspectivas de déficit de US$ 6 bilhões, o governo adotou medidas para restringir a entrada de produtos estrangeiros, como a aceleração da desvalorização do real em relação ao dólar e o aumento da tarifas de importação. Com isso, o déficit ficou em US$ 3,11 bilhões.
Peso do ICMS
A isenção do ICMS para exportações não deve interferir no movimento de embarques até o final de ano, segundo a Associação Brasileira de Comércio Exterior.
O tributo incide de forma mais pesada sobre a exportação de produtos básicos, como a soja.

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