São Paulo, sábado, 5 de outubro de 1996
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Livro mostra formas de operar com derivativos

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
EDITOR DO PAINEL S/A

Quatro trilhões de reais. Essa cifra, escrita mesmo por extenso, serve para ilustrar o tamanho do mercado de derivativos no Brasil.
E, na realidade, o número revela só uma parte. Com esses R$ 4 trilhões de volume total negociado deve fechar o ano só a BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).
O mercado de derivativos pode ser o lugar ideal da especulação, mas também é o da proteção. Derivativo significa reduzir o risco de uma operação -repassando-o para frente.
Imagine que você vai vender um terreno e que a rua de frente ainda não é asfaltada. É óbvio que o terreno valerá mais com o asfalto e você quer (ou precisa) vendê-lo agora, mas não quer perder dinheiro. Que fazer? Um derivativo.
Coloque no contrato de venda, por exemplo, que, caso a prefeitura asfalte a rua, o novo proprietário fica obrigado a pagar um percentual a mais.
Foram negócios assim, cotidianos, que geraram a necessidade do derivativo -um negócio que é gerado (derivado) de uma operação realizada no mercado à vista.
Negócios como exportar, tomando um crédito em dólar. E se o governo fizer uma máxi? Ou se o governo puxar o dólar para baixo?
Como tomar um empréstimo corrigido pela TR. E se o governo mudar a fórmula de cálculo da TR?
Assumir riscos faz, enfim, parte do negócio. Que dizer no Brasil?
No ano passado, não por acaso, duas Bolsas brasileiras, a BM&F e a carioca BBF (Bolsa Brasileira de Futuros), figuravam entre as quatro maiores do mundo.
Com a globalização do mercado financeiro e dos negócios, os derivativos ganharam ainda mais importância e sofisticação.
As empresas brasileiras podem estar indo bem e a Bolsa com expectativa de alta; basta que a Argentina se estropie para o mercado cair... no Brasil.
Assim, quem no mundo empresarial e financeiro de hoje não conhece o mercado de derivativos é como se não soubesse a tabuada.
Mas faz parte do negócio também aprender. No livro "Mercado de Opções -Conceitos e Estratégias", de Luiz Mauricio da Silva, é possível conhecer alguns dos mecanismos mais utilizados.
Silva, depois de explicar as origens e os fundamentos do mercado de opções, gasta a maior parte do livro mostrando formas de operação no mercado.
"Long call", "short butterfly", "call ratio spread", operação de box com oito pontas -ao todo, 27 tipos de operações descritos, com nome em inglês (o jargão dos operadores de mercado), objetivo, risco e possibilidades de ganho.
Ex-favelado, mestre pela Universidad Autónoma de Madrid, Silva presta consultoria no banco BRJ.
Mesmo com nítidas preocupações didáticas, o livro esbarra, volta e meia, em fórmulas e gráficos que exigem conhecimento prévio.
Conhecer os derivativos é tão importante quanto saber de seus riscos. Basta lembrar que a discussão sobre as formas de controle desses mercados ganhou o mundo depois que um operador, Nick Leeson, quebrou seu banco, o centenário Barings, em uma aposta desastrada na Bolsa de Tóquio.

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