São Paulo, sábado, 5 de outubro de 1996
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A cultura e os limites dos técnicos acadêmicos

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

O contraste entre técnicos que foram jogadores -como Telê Santana, Wanderley Luxemburgo, Mario Jorge Lobo Zagallo e Joel Santana- e os que nunca bateram bola -Carlos Alberto Parreira, Cláudio Coutinho- ganha um olhar original no livro "Nem Tudo é Futebol", nas livrarias até o fim do ano.
A formação do autor, Sérgio Redes, o ajuda na tarefa: ex-jogador, hoje ele é um pensador do esporte, professor da cadeira de futebol no curso de educação física da Universidade de Fortaleza e colunista do jornal cearense "O Povo".
Serginho Amizade, como é chamado, analisa as duas espécies de técnico sem o sectarismo e a estreiteza que costumam sufocar essa discussão.
Para ele, não há pecado original em um preparador físico se transformar em treinador, como ocorreu com o já morto Coutinho, técnico do Brasil na Copa do Mundo de 1978.
Zagallo, por exemplo, sempre diz "já estive lá dentro", como se apenas ex-atletas tivessem legitimidade para treinar.
Mas Serginho aponta uma limitação cultural para os técnicos de formação acadêmica.
Ele exemplifica com o jogo entre Palmeiras e São Paulo.
"Se o Parreira tivesse sido jogador, talvez acabasse com Djalminha só com um conselho: mandar o Djair meter a bola por entre as pernas dele."
Ou seja: para fazer Djalminha perder a cabeça, uma provocação com um toque sofisticado, à sua própria altura, pode ser mais fatal que uma aplicada marcação.
Outra sentença: "Um técnico nunca pode dizer, como Parreira, que um empate foi bom resultado".
Lição: comentários como esse deseducam os jogadores, podam aspirações de um time.
Estou longe de ter essa contundência com Parreira, pelo contrário, mas as sacadas de Serginho Amizade convidam ao debate inteligente.
Ele jogou no Rio (Botafogo e Olaria) e no Nordeste (Ceará e Fortaleza). Foi parar num clube só aos 20 anos, treinado por Zagallo, no Botafogo de 1967.
Em seguida virou hippie e mochilou três anos pelo Brasil. Voltou a jogar nos anos 70.
Como seu amigo Afonsinho, sempre batalhou para ter o passe livre e manteve uma lucidez que, agora, produz o primeiro livro.
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A Mangueira escolhe hoje seu samba para o Carnaval de 97, com o enredo "O Olimpo é verde e rosa" -uma força para a campanha Rio-2004.
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Com boa parte dos cartolas de seu time fazendo corpo mole, o rubro-negro Chico Alencar foi eliminado nas semifinais pelo vascaíno Sérgio Cabral Filho, que decidirá a eleição carioca com o tricolor Luiz Paulo Conde, afilhado do botafoguense Cesar Maia.
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Deu nas rádios do Rio:
Na Olimpíada eleitoral, o recorde negativo de tempo para votar na cidade foi de uma mulher humilde, mal orientada pelos mesários.
Ela errou a porta numa escola e deu de cara, na cozinha, com um forno microondas.
Como a eleitora nunca vira um, pensou que era a urna eletrônica. Ficou 45 minutos a apertar botões com os números sem que aparecesse na "tela" o nome dos candidatos.

Matinas Suzuki Jr., que escreve aos sábados, terças e quintas, está em férias

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