São Paulo, sábado, 5 de outubro de 1996
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Vencedores buscam temas brasileiros

EVA JOORY
DA REPORTAGEM LOCAL

A premiação do projeto "Antarctica Artes com a Folha" deixou os três vencedores, Marcos Reis Peixoto, Rivane Neuerschwander e Rodrigo Saad mais otimistas e com novas perspectivas.
Além da viagem que irão fazer no ano que vem à feira de artes Documenta de Kassel, na Alemanha, os artistas pretendem dar continuidade ao trabalho que vêm fazendo com mais entusiasmo.
Em Londres há um mês, a mineira Rivane Neuerschwander, 28, não acompanhou a premiação de perto, mas acredita ser esse o seu maior incentivo: "Vou ficar aqui durante um ano. Ganhei uma bolsa para estudar no Royal College of Art. Vou ter que começar tudo de novo. Minhas pesquisas vão mudar, vou modificar meu olhar".
Rivane foi premiada com uma obra feita com cascas de alho: "Esse prêmio me ajudou a acreditar que estou no caminho certo", disse em entrevista à Folha, por telefone, de Londres.
Para o baiano Marcos Reis Peixoto, 26, conhecido como Marepe, o reconhecimento do trabalho foi gratificante: "É o registro da minha identidade. Espero que surjam contatos". Sua obra reproduz o ambiente das feiras populares do Nordeste.
O capixaba Rodrigo Saad, 20, o Cabelo, ganhou com uma performance. Ele diz que gostaria de ver mais espaços abertos para sua arte. "Eu aposto no meu trabalho. Esse prêmio é uma força, abre uma porta para que eu continue com um pouco mais de horizonte. A dificuldade, para mim, é uma coisa natural. Mas no Brasil a maior dificuldade é a falta de um mercado consistente e abrangente", afirma Cabelo.
Os temas das obras apontam para uma arte mais brasileira, o que para os três artistas sinaliza o surgimento de uma nova geração. "Para mim é importante tratar das questões daqui. Nós, brasileiros, temos mania de não assumir nossas dificuldades", diz Marepe.
Ele afirma que sua geração pensa muito no Brasil: "Temos muito carinho pelo nosso país. Acho ótimo que artistas pontuem a imagem do Brasil por meio de música, arte e cinema, porque, no fundo, não conhecemos o Brasil. Agora estamos a fim de mergulhar no nosso umbigo".
Preguiça
"Eu trabalho muito na rede, acho a preguiça fundamental para meu trabalho", revela. "Pelo ócio pode-se garimpar o ouro também", diz Cabelo, que também é poeta e toca numa banda chamada Boato, no Rio, onde mora.
"Foi importante ter um júri que não orientou a premiação pela região. Por isso nossas obras falam tanto do Brasil. O bom daqui é a mistura. É bom poder mostrá-la", afirma o artista.
Para Rivane, o Brasil é uma fonte rica de matéria-prima: "É tudo muito exuberante em termos de formas, cores e desenhos".
Ela diz que ver artistas experimentando no Brasil é altamente positivo: "Não tem mais jeito de trabalhar com um só conceito".
O fato de a premiação ter saído do eixo Rio-São Paulo é só uma indicação de que não deve existir mais rivalidade entre os Estados.
"A filosofia dos curadores foi de perceber nossas preocupações. Existem muitas coisas além do folclore e da axé music, que ainda não foram mostradas. É uma questão de identificação com a linguagem, que não é necessariamente de vanguarda", diz Cabelo.
A mostra "Antarctica Artes com a Folha" acontece até dia 17 de novembro no pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, no parque Ibirapuera. A entrada é franca.

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