São Paulo, sábado, 5 de outubro de 1996
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Visitante pode ficar com obra da Bienal

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O conceito da desmaterialização da obra de arte tem uma outra leitura -menos teórica e mais divertida- no trabalho que os artistas plásticos Petra Varl Simoncic, da Eslovênia, e Matthew Ngui, de Cingapura, apresentam na Bienal.
A artista eslovena propõe que o espectador interfira em sua obra e -se aceitar esse convite- leve parte do trabalho para casa, devidamente assinado.
É simples. Logo no início, em um texto em inglês e em português, Petra detalha sua intenção. A artista escreve que já explicou seu projeto a muitas pessoas, mas que mesmo assim deve repeti-lo. Entre os dois textos, colocou uma fotografia de Katja, sua filha, que estará no local com a mãe.
O espectador deve pegar com Katja um lápis e uma pequena reprodução do desenho que gostaria de levar para casa. Procura o original na parede; faz uma cópia de próprio punho; troca os desenhos; e leva o original para a artista, que irá assiná-lo.
O desenho será então dado ao visitante, que pode permanecer quanto tempo quiser no local ou na Bienal, e depois ir para casa, com o desenho embaixo do braço. A pintura de Petra remete aos grafites, como os de Keith Haring.
O trabalho do artista Matthew Ngui, de Cingapura, também tem tradição na participação do público. Vai apresentar na Bienal a instalação/performance "Você Pode Pedir e Comer", em que prepara pratos a pedido dos visitantes.
Segundo Ngui, seu trabalho é "focalizado a partir dos pequenos, mas interessantes traços da cultura que são muitas vezes desconsiderados", como o ato de cozinhar, muito presente em sua obra. Seu trabalho lida sempre com a comunicação entre espectador, trabalho e artista.
Interação
Outros artistas da Bienal estarão trabalhando com a interação do espectador. A instalação "Ice Towers", da norueguesa Marianne Heske, é formada por duas torres de madeira e gelo que assumem a forma de cabanas estilizadas.
Para que a instalação se complete, o espectador deve tocá-la, deixar sua impressão, sua marca sobre o gelo. Marianne acredita na obra de arte como parte de um ciclo vital, energético e cíclico.
O artista plástico multimídia italiano Umberto Cavenago também vai precisar do público para a finalização de sua obra.
Vai apresentar uma instalação em vídeo em que o visitante pode "desmaterializar" monumentos e obras arquitetônicas que o artista considera "uma contínua celebração do poder reinante", preservando a paisagem que ali existia.
A relação direta e pessoal com o espectador é uma das características de todo o trabalho do italiano. "Minhas obras nunca são estáticas, definidas no espaço."

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