São Paulo, sábado, 5 de outubro de 1996
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Clark Terry promete divertir a platéia

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Raros foram os músicos de jazz que puderam somar, em suas carreiras, trabalhos ao lado dos mestres Duke Ellington, Count Basie e Lionel Hampton. Clark Terry é um deles e, aos 75 anos de idade, pretende mostrar no Brasil que continua fazendo jus à lenda.
O trompetista norte-americano está entre as atrações do 11º Free Jazz, que acontece na próxima semana. Terry toca quinta-feira, no Galpão Fábrica (São Paulo), e sexta, no MAM do Rio de Janeiro, sempre antecedido pelo piano bossa nova de Johnny Alf.
"Estive aí alguns anos atrás, junto com Joe Zawinul, mas não tive tempo para nada", disse Terry à Folha, anteontem, por telefone. "Só lembro que estava ansioso para conhecer a praia da 'Garota de Ipanema', mas nem isso foi possível", lamenta, com humor.
Quem o vê no palco, sempre descontraído e brincalhão, muitas vezes acaba se lembrando de Dizzy Gillespie (1917-1993) -uma recordação nada gratuita.
Além de ter exercido sensível influência musical sobre Terry, como trompetista, Dizzy também dividia com ele um ponto de vista semelhante sobre a relação entre músico e platéia.
"Quando você está no palco, tocando, deve divertir o público. Aquelas pessoas pagaram o ingresso e estão ali para esquecer de seus problemas. Ninguém foi até lá para ser maltratado, nem ouvir algo indecente ou desagradável", diz.
Por essas e outras, Terry acabou desenvolvendo inusitados efeitos sonoros com o trompete, que invariavelmente conseguem arrancar risadas de suas platéias -um recurso de "entertainer", que acabou lhe rendendo o apelido de Mumbles (resmungos).
"As pessoas gostam de sorrir. Elas vão a um concerto para apreciar a música e, ao mesmo tempo, se divertir", justifica o trompetista, que com o tempo também passou a cantar em seus shows.
Prometendo exibir esse seu lado menos frequente no Free Jazz, Terry conta que virá acompanhado por um quarteto acústico.
Além do sax alto de Dave Glasser, um detalhe do grupo que deve chamar atenção da platéia é a presença de Sylvia Cuenca, uma garota, como baterista.
Outra atração certa é o flugelhorn, instrumento da mesma família do trompete (com dimensões um pouco maiores e som maia adocicado), que Clark Terry contribuiu decisivamente para popularizar entre os jazzistas.
Já o repertório só será definido pouco antes dos shows. "Não há nada mais ridículo do que preparar um programa e descobrir que o tocou para pessoas erradas", justifica Terry, rindo.
Quando o assunto se volta para os trompetistas da nova geração, o veterano fica contente ao saber que Nicholas Payton estará presente nas mesmas noites do festival, embora em palcos diferentes.
"Nicholas é um músico maravilhoso e eu o considero como um filho", elogia Terry.
"Sinto-me feliz por ter dado uma mãozinha a esses garotos que hoje tocam tão bem", diz o dublê de músico e educador, que dirige um instituto de estudos jazzísticos e uma "big band", na Universidade de Westmar.
Aproveitando a vinda de Terry ao Free Jazz, a PolyGram promete lançar até o final do mês o CD "Clark After Dark", que destaca clássicos do jazz revisitados pelo trompetista.

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