São Paulo, sábado, 5 de outubro de 1996
Próximo Texto | Índice

CRISE IDEOLÓGICA

A confirmação do segundo turno em São Paulo entre os candidatos Celso Pitta (PPB), que promete dar continuidade à administração de seu patrono político, Paulo Maluf, e a ex-prefeita Luiza Erundina (PT) coloca para os paulistanos uma escolha entre dois modos de governar. Mesmo assim, por estranho que pareça, começam a assemelhar-se um pouco mais no discurso.
Ambos se apresentam como interessados nos problemas sociais. A linha de administração de Maluf e Pitta ainda tem a vantagem mercadológica adicional de defender também a vigorosa realização de obras viárias, o que tende a render altos dividendos políticos. Mas é inegável que, gastando-se bilhões na abertura de avenidas, viadutos e túneis por toda a cidade, diminuem os montantes para investimento no social.
O fato curioso, contudo, é que as propostas de Maluf, representante da direita, colaborador do regime militar, e Erundina, oriunda das correntes mais esquerdistas do PT, de alguma forma tendem a se aproximar. Maluf fala do social e Erundina exalta sua experiência administrativa.
O que causa estranheza é justamente essa aproximação dos discursos típicos da direita e da esquerda. São razões compreensíveis. A primeira aposta na velha fórmula de Lampedusa: se quisermos manter as coisas como estão, é preciso modificá-las. Já a esquerda, depois da queda do Muro de Berlim, parece ter abandonado o socialismo tradicional pela social-democracia.
Feitas as contas, pode-se concluir que a disputa pelo voto do eleitor tende a apagar as diferenças ideológicas, ao menos no discurso. Talvez seja esse mais um sintoma da crise das ideologias.

Próximo Texto: ANTES DO TANGO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.