São Paulo, sábado, 5 de outubro de 1996
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ANTES DO TANGO

Em dezembro de 94, a política econômica do México passou de exemplo maior de sucesso a símbolo de alerta contra déficits externos muito elevados. Desde 95, a Argentina registra taxas de desemprego excepcionalmente altas. E também daí é possível tirar algumas lições.
Em artigo publicado por esta Folha na última quarta-feira, o economista Antonio Barros de Castro argumenta que a relativa absorção de trabalhadores e pequenos empresários pelo setor de serviços, ocorrida no período inicial dos planos de estabilização, se esgota à medida que cessa a alta dos preços dessas atividades.
Tanto na Argentina como no Brasil, o valor dos bens e serviços que não podem ser importados subiu bem mais que o dos produtos industriais, sujeitos à concorrência externa. Isso criou oportunidades que inicialmente compensaram, ao menos em parte, as demissões na indústria.
Mas esse crescimento momentâneo dos serviços não tem o alcance das transformações ocorridas ao longo de décadas nas economias mais desenvolvidas. Nas palavras do economista e ex-presidente do BNDES, "confundir esse tipo de fenômeno, obviamente transitório, com tendências de longo prazo do capitalismo é não distinguir mudanças de natureza estrutural de acomodações circunstanciais". De fato, na Europa e nos Estados Unidos, a paulatina substituição da indústria pelo crescente setor de serviços foi fruto de um demorado processo de desenvolvimento.
A crise em que mergulhou o México serviu como ensinamento contra a confiança excessiva na atração de capitais para compensar a deterioração da balança comercial. Os dramáticos índices de desemprego da Argentina recomendam reserva quanto a previsões de que as vagas de trabalho perdidas na indústria serão espontaneamente recuperadas nos serviços.
São ambos poderosos sinais de alerta que convém ao Brasil observar. Quando se trata de lições dolorosas, é sempre melhor aprender com a experiência alheia que com a própria.

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