São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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As lições da Cosipa

CELSO PINTO

A Cosipa, Companhia Siderúrgica Paulista, era uma espécie de "patinho feio" da privatização. Antes de ser arrematada pela também privatizada Usiminas, em agosto de 93, muitos duvidavam que o setor privado se interessaria pela mais dilapidada, atrasada e desorganizada das siderúrgicas estatais, um famoso cabide de emprego de políticos.
Depois de privatizada, a Cosipa realizou um mega-prejuízo de R$ 579 milhões em 93, criou enormes provisões e conseguiu o que parecia impossível: gerou lucro de R$ 38 milhões em 94 e de R$ 72 milhões em 95. Parecia ter virado cisne.
No primeiro semestre deste ano, contudo, a Cosipa voltou para o vermelho, em R$ 67 milhões, o que fez suas ações caírem ainda mais. Desde novembro de 94, a ação PNB da Cosipa despencou de R$ 3,30 para R$ 0,62, um tombo espetacular de 81%, num período de alta na bolsa. Acabou o charme da privatização?
Na verdade, houve excesso de entusiasmo inicial do mercado e, talvez, dos novos controladores. Houve ganhos, mas a faxina exigida era muito maior do que se imaginava. O próprio presidente da Cosipa, Marcus Tambasco, um ex-diretor da Usiminas, prevê que só em 98 estará de pé a "nova Cosipa", depois de um programa de investimentos de R$ 691 milhões de 94 a 98 -mais do que investirão algumas das fábricas de automóveis disputadas a tapas por governadores.
Tambasco diz que, com 30 anos de experiência profissional na área, nunca viu "degradação tão grande numa siderúrgica, como na Cosipa antes da privatização". A velha Cosipa assinou sete acordos ambientais com a Cetesb e não cumpriu nenhum. Não pagava impostos, clientes, fornecedores, tinha perdido acesso ao sistema financeiro, havia um "gap" tecnológico de 20 anos, perdeu talentos e só disputava mercado para produtos de segunda e terceira categoria.
Tambasco encontrou, por exemplo, 122 pessoas lotadas no gabinete da presidência da Cosipa, incluindo militares de alta patente. A empresa havia parado de fazer manutenção e devia R$ 1,2 bilhão a curto prazo. A capacidade instalada era de 3,9 milhões de toneladas, só abaixo da CSN, mas o recorde de produção tinha sido 3,08 milhões em 1992. Tinha 13.077 funcionários, mas 1.261 não trabalhavam, por uma razão ou outra.
Comparado a este quadro, a Cosipa avançou. A produção, nos últimos 4 meses, chegou a um ritmo equivalente a 4 milhões de toneladas/ano. Hoje existem 8.486 funcionários, dos quais 408 sem trabalhar. A produtividade mais do que dobrou em relação a 93, enquanto o faturamento cresceu 27%.
O mais difícil, avalia Tambasco, tem sido recuperar a imagem da empresa. Por encontrar resistências no mercado interno, mais lucrativo, a Cosipa continua tendo que exportar 45% do que produz e não os 30% que considera ideais. E continua colocando 43% de seus produtos via rede de distribuidores, quando seria mais lucrativo vender direto para os clientes finais.
Mas a Cosipa tem seus trunfos, reconhecidos no mercado. É a siderúrgica mais próxima do Mercosul e dispõe de um significativo porto próprio em Cubatão. O porto, aliás, é uma de suas apostas: a Cosipa usa 80% da capacidade (para cinco navios de 70/80 mil toneladas). O resto ela quer usar como um terminal de granéis (carvão), outro para até 6 mil veículos e um terceiro para contêineres.
O potencial do porto é enorme, mas esbarra em vários problemas. O custo da operação portuária subiu 32% desde 93 e Tambasco culpa a Codesp (que administra o porto de Santos) e o custo excessivo da estiva. Os dois casos estão em disputa.
Analistas de mercado concordam que a Cosipa é uma aposta de médio prazo. Os lucros de 94 e 95 não vieram da operação, diz um analista, e sim de ganhos judiciais e da liberação de provisões. A reversão deste ano era previsível.
Alguns acionistas da Cosipa privada podem ter perdido dinheiro, mas não os contribuintes. Desde a privatização, a Cosipa tem pago, em média, R$ 313 milhões ao ano em impostos, incluindo muitos atrasados. Em 92, antes da venda, tinha pago R$ 10 milhões.

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