São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Descaso lidera queixas contra médicos

AURELIANO BIANCARELLI
ROGERIO SCHLEGEL

AURELIANO BIANCARELLI; ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

Para presidente do CRM, crescimento das denúncias de mau atendimento se dá porque paciente agora conhece seus direitos

A agente de viagens Simone Brito, 30, viveu um parto de horrores nas mãos de um obstetra que a mandava calar a boca, dizia que seu bebê estava morto e que não valia a pena gastar remédio com ela.
Na quarta-feira passada, seis meses depois do pesadelo, Simone protocolou uma denúncia no Conselho Regional de Medicina.
Sua acusação vai se juntar a outras 2.931 denúncias que estão sendo analisadas pelo CRM. Nos últimos três anos, o número de queixas só vem aumentando. Passou de 1.207 em 93 para 1.473 em 94 e subiu para 1.509 no ano passado.
A grande maioria não se refere a erro médico, nem a violências. São denúncias que envolvem falhas na relação médico-paciente, má prática por conta das atuais condições de trabalho e uso pouco criterioso da tecnologia.
"A tendência é que as denúncias aumentem ainda mais", diz Pedro Henrique Silveira, presidente do CRM. Não quer dizer -ele ressalva- que distratos e descasos médicos estejam crescendo.
"O que vem aumentando é a noção de cidadania dos pacientes. Elas sabem mais sobre seus direitos e estão cobrando."
Segundo Silveira, o próprio CRM está propondo mudanças no seu regimento, de forma a agilizar investigações e julgamentos. Do total de denúncias que chegam ao conselho, pouco mais de 10% se transformam em processos.
Nos últimos 11 anos, 749 médicos paulistas foram julgados e 374 receberam algum tipo de punição. Na população de 75 mil médicos do Estado, os condenados são exceções. O trâmite dos processos demora entre dois e três anos.
A busca de uma relação responsável e de confiança entre médico e paciente vem sendo tema de debates no CRM e estará no centro do Congresso Brasileiro de Ética Médica, que acontece esta semana em São Paulo.
O Hospital das Clínicas, por sua vez, está propondo um novo "termo de responsabilidade" em que o poder é transferido do hospital para o paciente.
"O médico é visto como deus ou como bandido. É essencial que o elo de confiança seja restabelecido", diz Irene Abramovich, médica do HC e conselheira do CRM.
O aprendizado deveria começar nas escolas de medicina. Mas, na grande maioria delas, as aulas de ética ficam em segundo plano.

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