São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Droga é nova arma contra derrames

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma droga que dissolve coágulos nas artérias do cérebro pode se tornar a mais nova arma dos médicos no combate aos "derrames".
As células nervosas são sensíveis a essa interrupção. Em poucas horas, elas morrem e deixam de transmitir informações essenciais para o funcionamento do corpo.
O novo tratamento, similar ao que os cardiologistas usam para desobstruir as coronárias durante um infarto, utiliza uma substância conhecida como ativador do plasminogênio tecidual (TPA).
O TPA é injetado em uma veia do braço, chega ao local da obstrução, dissolve o coágulo e permite que o sangue volte a irrigar o tecido cerebral. Quando utilizado rapidamente, o método pode preservar as células nervosas e diminuir as sequelas de um "derrame".
Cautela
O TPA só pode ser usado em centros especializados e com bastante cautela. Essa é a opinião de Ayrton Massaro, da clínica neurológica do Hospital das Clínicas da USP. Segundo ele, o uso indiscriminado traz uma série de riscos.
Em primeiro lugar, o médico deve realizar uma tomografia computadorizada de crânio para ter certeza de que a causa do "derrame" é mesmo um trombo.
Se a causa do acidente vascular cerebral for uma artéria que está sangrando (AVC hemorrágico), o TPA não pode ser empregado. Ele acaba atrapalhando o processo natural de coagulação que procura estancar esse sangramento.
O tempo é outro limite fundamental. O TPA só deve ser aplicado, no máximo, três horas após o início dos sintomas. Um tempo mais longo que esse aumenta o risco de o paciente sofrer sangramentos cerebrais, que dificultam ainda mais sua recuperação.
Massaro explica que, por exemplo, se uma pessoa acorda, de manhã, com os sintomas de um "derrame", ela não pode receber a medicação, porque não se sabe há quanto tempo ela está assim.
Para Getúlio Daré Rabello, da clínica neurológica do HC da USP, hoje, no Brasil, é muito difícil para a maioria dos hospitais receber o doente, realizar a tomografia e aplicar o TPA no tempo recomendado. Segundo ele, falta ainda agilidade nas etapas desse processo.
No final de 95, um estudo publicado no "New England Journal of Medicine", uma das publicações médicas mais conceituadas, apontou que o uso do TPA três horas após o início do AVC é seguro.

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