São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Homossexuais são vítimas de novo golpe

DA REPORTAGEM LOCAL

Um novo tipo de golpe está sendo aplicado por garotos de programa em homossexuais de São Paulo. O "Boa noite, Cinderela" já fez vítimas também no Rio, onde os primeiros casos aconteceram, há mais de um ano.
O golpe consiste em adicionar soníferos na bebida da vítima, até que ela perca a consciência e não consiga se defender do roubo.
Além de dois casos registrados no 15º DP e no 78º DP, há outros cujos envolvidos preferiram não fazer o boletim de ocorrência.
"Na polícia eles te chamam de veado, dão a entender que foi bem feito", diz o executivo Roberto (nome fictício), que sofreu o golpe no bar "Burger Beer" (centro).
Roberto foi abordado por dois homens de boa aparência, que se sentaram ao lado dele no balcão.
"Não aceitei nada em momento algum, mas como estava entre os dois, um deles deve ter aproveitado que eu conversava com o outro para colocar a droga na bebida."
Roberto começou a ficar "grogue" e, a partir daí, lembra de pouca coisa. "Sei que saí dali com eles e entrei no meu carro", conta.
Ele diz que ficou em estado de semiconsciência ("dormia, mas tinha flashes do que se passava").
Isso durou dois dias. "Eu apaguei numa quinta-feira de madrugada e só fui acordar de fato na tarde do sábado", diz.
Quando recobrou a memória, Roberto estava no Hotel Paraíso, na rua Vergueiro. "Eles me largaram ali e saíram na sexta-feira com o meu cartão do Banco Itaú."
Roberto diz que tinha cartão de outros bancos, mas o do Itaú é o único que tem limite por agência, e não por dia. "Eles sacaram R$ 10.000 de várias agências."
Para ele, existe alguma ligação entre os golpistas e o pessoal da recepção do hotel. "Como é que eles deixam uma pessoa que chega carregada, completamente "grogue", se hospedar no hotel?"
Ele conta que tentou sair, mas a recepcionista (era outra) não permitiu. "Quando viu o meu estado, ela chamou a polícia", diz.
"Tentei fazer um boletim de ocorrência, mas desisti por causa da chacota da polícia", diz. "Eles me chamavam no feminino", diz.
Roberto enfrentou problemas também no trabalho. "Estava na empresa fazia duas semanas", diz. "Me senti obrigado a arranjar uma porção de testemunhas para provar que não estava mentindo."
Com o funcionário público Eduardo, 42 (o nome é fictício), o golpe aconteceu no Latino (casa noturna extinta nos Jardins).
"Conhecia o rapaz de paquera e não vi nada demais em aceitar um gole de Coca-Cola na lata", diz.
"Apaguei em poucos minutos e acordei dois dias depois na casa dos meus pais, que estavam viajando", conta. "Eles tinham roubado o dinheiro da carteira, aparelhagem de som, vídeo e roupas."

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