São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Crescimento e riqueza

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Uma impressão equivocada sobre o crescimento econômico é que ele concentra a renda ou que a concentração da riqueza pode ajudar o crescimento, pois "os ricos poupam parte do que ganham, enquanto os pobres consomem toda sua renda".
Essa visão baseia-se na idéia de que deve haver poupança primeiro e, com ela, haverá crescimento.
Pesquisas mais atuais sobre o desenvolvimento mostram que não é assim. Vale a pena citar um estudo recente de Michael Bruno, economista-chefe do Banco Mundial e um dos formuladores do programa de estabilização de Israel, e Lyn Squire, do departamento de pesquisa sobre o desenvolvimento daquele banco: "Novas pesquisas mostram que, em geral, quanto menos equitativa é a distribuição de riquezas de um país, mais lento é seu crescimento econômico. (...) Usando dados novos para 93 países, concluímos que os países com uma distribuição mais equitativa de ativos -particularmente da terra- cresceram mais rapidamente do que aqueles com uma distribuição menos equitativa". A melhor distribuição da propriedade permite que mais gente tenha acesso ao crédito e faça investimentos.
Sublinho a importância desse trabalho porque obtive resultados comparáveis em um estudo que concluí recentemente sobre o crescimento da renda per capita no Brasil entre 1939 e 1994.
Parte desses resultados, relativos às taxas de crescimento dos Estados, foi divulgada pela Folha em 22 de junho e pela revista "Veja" de 26 de junho.
Mas a pesquisa prosseguiu, com o uso de técnicas econométricas, investigando os indicadores que poderiam explicar as diferenças nas taxas de crescimento dos Estados.
Os fatores que se mostraram significativos foram os seguintes: queda do analfabetismo, aumento da escolaridade (medido pela fração da população que possui diploma ginasial ou mais), taxa de investimento em capital físico e índice de concentração da propriedade da terra.
Os Estados com maior redução no analfabetismo, aumento da escolaridade e menor concentração da propriedade da terra apresentam taxas de crescimento maiores que os os demais.
Isso me levou a declarar para "Veja" que, "com coronelismo e latifúndio improdutivo, nenhum lugar vai para a frente". Teve gente que achou isso "ousado".
Pois agora temos um estudo de autoria de dois economistas reputados chegando à mesma conclusão.

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