São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996 |
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Palestinos esperam por mais recursos
GILSON SCHWARTZ
Logo depois da vitória do ultra-conservador Netanyahu, quando o cenário mais provável era mesmo a radicalização dos conflitos e uma possível reversão do processo de paz, escrevi que, principalmente por razões econômicas, o primeiro-ministro israelense teria de recuar. A sua imagem apertando as mãos de Iasser Arafat marca, em meio à violência que a princípio desautoriza qualquer aposta na paz, é o primeiro passo daquele recuo anunciado. Virão outros. Tema do FMI Voltando aos fatores econômicos, é interessante ressaltar a realização, na reunião do FMI e Banco Mundial, na semana passada em Washington, de um seminário sobre a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Foi no mínimo curioso ver os financistas do mundo inteiro discutindo o ajuste econômico nos territórios sob gerência da Autoridade Nacional Palestina, enquanto, na mesma cidade, trafegavam comboios de negociadores tentando evitar o desmoronamento do próprio tema do seminário. Curioso, mas oportuno: para os principais organismos financeiros multilaterais do mundo, os palestinos já são dignos de terem suas próprias "contas nacionais". O projeto de um país independente avança no plano econômico. O relatório do Banco Mundial sobre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, entretanto, também toma suas precauções. Já na primeira contracapa avisa que "as fronteiras, cores, denominações e qualquer outra informação usados no mapa da capa não implicam qualquer juízo do banco sobre o estatuto legal de qualquer território, endosso ou aceitação dessas fronteiras". Seja como for, capa e relatório são impressionantes e, claro, foram preparados antes da crise de violência que irrompeu na região. Potencial Com a palavra, o Banco Mundial: "Uma força de trabalho bem educada, de baixo custo e com uma forte tradição empresarial, expectativa de acesso privilegiado a mercados (em Israel, no resto do Oriente Médio e na Europa), uma diáspora palestina que está pronta e habilitada a oferecer fundos para investimentos e compromisso de apoio da comunidade internacional dão à Cisjordânia e à Faixa de Gaza um significativo potencial econômico". Para que o potencial se realize, é necessário aumentar a confiança no processo de paz. Para o Bird, a região praticamente não teria como suportar outro 1996, em que as esperanças foram abaladas por fechamento das fronteiras que abalam o comércio exterior e aumentam o desemprego entre os palestinos. O recado é claro: para reduzir o desemprego, é necessário conseguir trabalho em Israel. Mas já há projetos em andamento. Na Faixa de Gaza, em Carni, US$ 50 milhões estão sendo destinados à criação de uma Zona Industrial da Autoridade Palestina, em conjunto com Israel. Apoio externo O papel da comunidade internacional será decisivo. Em 1993 foram prometidos fundos num total de US$ 2,9 bilhões, entre doações e empréstimos e garantias por cinco anos. Da promessa, foram confirmados US$ 2,2 bilhões e desembolsados US$ 1,2 bilhão. O PIB dos territórios é de US$ 4 bilhões. Se os recursos prometidos forem desembolsados, será uma injeção de recursos equivalente a 25% desse PIB em cinco anos. Ou seja, o suficiente para reconstruir os territórios ocupados e construir um país. Uma hipótese, portanto, é que, justamente quando o conteúdo econômico do projeto palestino começa a ficar mais claro, os radicais em Israel e entre os palestinos mais tenham interesse em tumultuar o processo. Sem ser "Polyana" demais, talvez seja possível dizer que, nesse caso, quanto pior, mais indícios de que no fundo as coisas podem começar a melhorar. Texto Anterior: Milagre insólito Próximo Texto: O velho e o novo Índice |
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