São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Dole tenta reverter baixa em debate

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O candidato da oposição à Presidência dos Estados Unidos, Bob Dole, tem hoje a última chance de reverter a tendência do eleitorado a reeleger seu adversário, Bill Clinton.
A partir das 21h locais (23h em Brasília), os dois debaterão por 90 minutos no teatro Bushnell, em Hartford, Connecticut (Costa Leste), com transmissão ao vivo de seis redes nacionais de TV para entre 67 e 95 milhões de pessoas.
Com o humor autodepreciativo que tem revelado na campanha, o próprio Dole reconhece: "Vou falar à maior audiência da minha vida, mas só por alguns minutos, antes que todos desliguem".
A campanha presidencial de 1996 tem sido a que menos interesse desperta no público americano desde pelo menos 1964, quando a reeleição de Lyndon Johnson contra Barry Goldwater nunca foi posta em dúvida (Johnson venceu com inigualados 61,1% dos votos).
Talvez por isso o debates de hoje e o do dia 16, em San Diego, Califórnia (Costa Oeste), estejam sendo aguardados com tanta expectativa, no mínimo pelos aliados de Dole e por jornalistas desanimados com a apatia do eleitorado.
Pesquisas do Instituto Pew e do "The Wall Street Journal" mostram que cerca de um terço dos eleitores dizem que podem ser "persuadidos" a definir seu voto por causa dos debates.
Mas só 43% dos adultos norte-americanos se disseram propensos a assistir aos programas.
As convenções nacionais dos dois grandes partidos, Democrata e Republicano, tiveram neste ano audiências de TV 20% menores do que as de 1992, e é provável que o mesmo ocorra com os debates (vistos, cada um, por cerca de 90 milhões de pessoas em 1992).
Dole passou a semana inteira se preparando para o espetáculo. Trancou-se no seu apartamento no 12º andar de um condomínio de frente para o mar em Bal Harbour (Flórida) com o senador Fred Thompson, um ex-ator, fazendo o papel de Clinton, e seu assessor de imprensa, Nelson Warfield, representando o moderador Jim Lehrer.
Sua estratégia vai ser: lembrar o público dos bons tempos do passado, acusar Clinton por suas promessas não cumpridas, fazer referências discretas aos problemas de caráter do presidente.
Bob Dole, 73, não tem nada a perder. Por isso, pode se arriscar. Seus 35 anos de experiência parlamentar vão ajudá-lo no "toma-lá-dá-cá" retórico do debate.
Mas ele está longe de ser um orador carismático, e a TV não é o meio em que ele se sai melhor.
Clinton, 50, só começou seus ensaios na sexta-feira, no Hotel Athenaeum, em Chautauqua, Nova York, onde o outono começou gélido (com temperaturas próximas de 0oC à noite).
Seu "Bob Dole" é o ex-senador George Mitchell que, como o adversário real do presidente, foi líder da maioria no Senado, e o seu "Jim Lehrer" é o porta-voz da Casa Branca, Mike McCurry.
A orientação de Clinton será: falar sobre as prioridades do seu próximo mandato como se ele já fosse certo, mostrar deferência a Dole como veterano de guerra e da política (e, com isso, delicadamente ressaltar que ele é idoso) e atacar o Partido Republicano por cortes em programas sociais.
O presidente, que em geral se sai bem na TV, só tem de se preocupar em não cometer grandes gafes, o que às vezes ocorre quando fica muito à vontade (como quando respondeu a um rapaz no estúdio da MTV que, se pudesse, tentaria tragar um cigarro de maconha, já que na primeira vez que fumou não conseguiu por causa de alergia: a boutade está sendo explorada em anúncios de Dole).
O perfil ideal do eleitor "persuadível" que Dole vai tentar conquistar hoje é: homem, operário, jovem (menos de 30 anos), hispânico e sem filiação partidária.

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