São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Paz será definida após eleição nos EUA

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ISRAEL

As negociações de paz que começam hoje no posto de Erez, na fronteira entre Israel e a faixa de Gaza, seguirão o calendário eleitoral dos EUA.
A Folha apurou a informação junto a oficiais norte-americanos que foram a Washington participar da cúpula sobre Oriente Médio na semana passada e membros da Autoridade Nacional Palestina.
A equação é simples. O presidente Bill Clinton (Partido Democrata), candidato à reeleição em 5 de novembro, conseguiu um armistício temporário entre os líderes Iasser Arafat (ANP, Autoridade Nacional Palestina) e Binyamin "Bibi" Netanyahu (Israel).
Com uma estabilização temporária em Israel, Clinton ganha fôlego para a reta final de sua campanha -na qual deve ser bombardeado pelo oponente republicano Bob Dole pela falta de resultados da cúpula de Washington.
Iasser Arafat, dado como derrotado pela população palestina por não ter arrancado concessões de Israel, pode ter fortalecido sua posição no médio prazo.
Isso porque sua força policial de 30 mil homens voltou a seu controle. E, sem ela lutando, os conflitos entre soldados israelenses e palestinos se limitam ao modelo intifada -pedradas, prisões e baixo número de vítimas.
"Arafat só tem que fazer uma coisa: segurar seus homens e continuar com o pé no pescoço dos terroristas", disse um diplomata ocidental baseado em Tel Aviv.
Preço
Passada a eleição nos EUA, a história muda. Se Bill Clinton ganhar, como sugerem pesquisas, é provável que o processo de paz ganhe sua participação direta.
"Agora ele não poderia meter a mão em um processo tão complicado faltando um mês para a eleição. Mesmo porque, se não for reeleito, a coisa ficaria patética", disse um oficial palestino de Gaza.
Só que o mesmo oficial ressalta o risco da estratégia. "Não podemos prevenir totalmente a violência. Nada podemos fazer sobre a ansiedade popular. Nesse ponto, a cúpula foi um grade fracasso."
Ao não participar diretamente das conversas, que terão o especialista Dennis Ross (EUA) como avalista, "Bibi" e Arafat dão a dica sobre o que vai acontecer.
"Os baixos escalões envolvidos não vão resolver nada", disse o analista Ibrahim Karawan, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (Londres).
Nesse ritmo, a situação seria "cozinhada" até novembro. Mas aí entram os imprevistos.
Eles podem ser: 1. Atentado islâmico contra alvos civis judeus ou confronto entre a polícia de Arafat e soldados de Israel; 2. Violência intensificada nos territórios ocupados.
As duas primeiras hipóteses dariam argumento para a direita israelense recrudescer e enterrar o processo de paz como está agora.
A última colocaria pressão sobre o segundo escalão e possivelmente obrigaria "Bibi" e Arafat a participarem mais ativamente das negociações. Algo que não querem agora pela previsão de falta de resultados que elas inspiram.

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