São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Paralisia marca tribunais de guerra

LUCIA MARTINS
DE LONDRES

Nurembergue, cujo final completou 50 anos no dia 1º, foi o último tribunal de guerra que conseguiu resultados em pouco tempo. Em cerca de dez meses, julgou 177 alemães e austríacos, dos quais 142 foram condenados.
Hoje, estão em andamento dois tribunais de crimes cometidos na guerra da Bósnia e de Ruanda. Os dois já têm mais de um ano e ainda não concluíram o julgamento de nenhum dos acusados.
"Existe uma diferença brutal entre os julgamentos de Nurembergue e os de Ruanda e da ex-Iugoslávia, mas é claro que o fato de o primeiro ter sido conduzido pelos vencedores fez diferença", disse à Folha Christopher Keith Hall, conselheiro jurídico da Anistia Internacional, em Londres.
Segundo Hall, em 50 anos os direitos humanos sofreram uma revolução, o que torna mais lentos os julgamentos de agora. "Hoje os acusados têm direito de apelar, de ter o advogado que quiser e de recorrer de uma condenação. Isso não existia no passado."
Lentidão
A morosidade dos julgamentos dos acusados na Bósnia é clara. A guerra entre sérvios, croatas e muçulmanos, que durou três anos (92-95), deixou 250 mil mortos.
Os sérvios bósnios são os principais acusados de cometer crimes em massa na ex-Iugoslávia.
Radovan Karadzic, líder dos sérvios da Bósnia durante a guerra, foi acusado pelo Tribunal Internacional para Crimes de Guerra na Ex-Iugoslávia pela limpeza étnica promovida em áreas muçulmanas, mas ainda não foi julgado.
Está em liberdade, apesar de sua prisão ter sido decretada em julho deste ano. O chefe militar Ratko Mladic também está foragido.
"O tribunal alega que não tem poder para entrar no país, para prender os acusados e mantê-los sob custódia. Além disso, os conflitos na região não acabaram completamente."
O único julgamento que está em andamento é o do sérvio Dusan Tadic, acusado de torturar e assassinar croatas e muçulmanos.
Ruanda
O país africano que de abril a julho de 1994 assistiu a um massacre de cerca de 1 milhão de pessoas causado pela luta entre as etnias rivais tutsi e hutu ainda não começou a julgar os 21 acusados de assassinatos em massa.
"O principal problema do tribunal de Ruanda é a falta de recursos. Os países não têm muito interesse em ajudar, tanto financeiramente como enviando pessoas qualificadas", disse Hall.
O primeiro julgamento, de Musoro Nodura, começaria no dia 26 do mês passado, mas foi adiado por pelo menos um mês. Nodura ficou conhecido pela frase: "Matei 900 e espero ser executado".

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