São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Os filhos do divórcio

GILBERTO DIMENSTEIN

O fim do casamento reduz em 30% o padrão de vida da mulher, obrigada a viver sozinha com os filhos, submetida a salários inferiores aos dos homens. O ex-marido, em compensação, enriquece 10%.
A queda do poder aquisitivo é apenas uma gota na chuva de estatísticas e estudos divulgados este ano sobre os efeitos da separação de casais nas famílias e na sociedade americana.
Transformado em assunto prioritário na sucessão presidencial, o casamento virou fonte de votos, com os candidatos tentando assumir o papel de representantes dos valores da família.
Os inflamados discursos de Bill Clinton, notório mulherengo, e de Bob Dole, ex-divorciado, não tiveram um décimo da repercussão do filme estrelado pelas atrizes Diane Keaton, Bette Midler e Goldie Hawn, campeão de bilheteria nos Estados Unidos.
Em "O Clube das Ex-Mulheres", elas fazem multidões rir nos cinemas com a engenhosa vingança que armam contra os ex-maridos, seduzidos por jovens esculturais. Pisoteiam a já pisoteada imagem dos homens e discutem a fragilidade do casamento.
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Nenhum filme faturou tanto na semana passada. Compreensível: de cada 10 casamentos nos Estados Unidos, 6,5 se desfazem e, na maioria das vezes, vamos reconhecer, as mulheres levam a pior.
Elas acumulam as tensões do trabalho com a tarefa de educar sozinhas os filhos. Muitas vezes, recebem pensões ridículas dos ex-maridos, isso quando recebem alguma coisa.
Para piorar, os salários das mulheres são, em geral, inferiores aos dos homens.
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Se alguém como Olacir de Moraes, por exemplo, começa a sair com uma mulher 30 anos mais jovem, a sociedade aplaude. As colunas sociais ressaltam a juventude recuperada, e ele vira personagem obrigatório da revista "Caras". Tirando os herdeiros, quase ninguém condena.
Mas, se uma mulher desfila com um companheiro mais jovem, é ridicularizada, apontada como mãe irresponsável ou avó alucinada.
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Ocupada com os filhos, obrigada a passar mais tempo em casa, limitada em sua escolha de novos companheiros, natural que a mulher produza uma estatística incômoda.
O homem tem três vezes mais chances de se casar de novo do que a mulher, informou na semana passada a revista "Time", que fez reportagem de capa sobre a síndrome das ex-mulheres.
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O discurso feminista, embalado pela imprensa, acerta ao mostrar a vulnerabilidade da mulher. Mas não é ela a principal vítima da crise conjugal.
As universidades têm produzido detalhadas investigações mostrando que a conta maior é paga pelos filhos. Uma em cada três crianças norte-americanas não tem o pai em casa. O divórcio dos pais é a maior preocupação dos estudantes.
Ao procurarem as causas do crescente suicídio entre os jovens americanos, psicólogos constataram que a maior motivação é a separação dos pais. O suicídio é hoje a segunda causa de morte na faixa dos 15 aos 19 anos.
Todos os dias, segundo dados oficiais, 80 crianças e jovens tentam se matar. Na maioria das vezes, nem pais nem professores captam sinais de que há algo errado.
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As pesquisas revelaram que a separação produz baixo rendimento escolar e é um estímulo ao crime. Basta ver as entrevistas realizadas nas prisões americanas. Filhos de mães solteiras ou descasadas são 60% dos estupradores e 72% dos assassinos.
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Por aí se vê o receio no alto comando da campanha de Bill Clinton sobre um livro que está para sair e tem como tema a primeira-dama Hillary Clinton. Escrito pelo jornalista David Brock, o livro revela que ela contratou, no passado, um detetive particular para rastrear os encontros amorosos do marido. Foi moleza.
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Por falar em eleições, uma curiosidade na disputa às prefeituras no Brasil -o ministro das Comunicações demonstrou como alguém não deve se comunicar.
Errado, entretanto, culpar apenas Sérgio Motta pela derrota de José Serra. O principal culpado é o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso, que não tomou providências e deixou Motta fazer o quem bem entendesse.
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PS - São desenvolvidos aqui programas para lidar na escola com o trauma de crianças de casais separados -inclusive ensinam aos pais e professores sinais de depressão e mesmo tendência ao suicídio.

E-mail GDimen@aol.com

Fax (001-212) 873-1045

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