São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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Santa paciência!

MARIANE COMPARATO

Aprenda a lidar com a impaciência da criança sem perder a calma
"Nervosinho." É assim que a professora de música Flávia Barcellos, 35, define seu filho Cauan, 12. É que ele, como muitas crianças, é impaciente e sempre quer ser atendido na hora. Quando é contrariado, Cauan se irrita.
Nessa hora, muitos pais não sabem como agir: "Por medo de tirar a personalidade da criança, acabam tornando-a uma déspota", diz a psicanalista Raquel Ajzemberg.
O pediatra Bernardo Ejzemberg afirma que os pais conseguem convencer as crianças se passarem credibilidade: "Tudo o que você falar para a criança tem de ser verdade; só assim ela aprenderá a respeitar e a confiar no adulto".
Mas os pais também têm de associar autoridade a essa credibilidade -sem abusar. De fato, "Quando os pais só têm credibilidade mas não sabem se impor, não adianta", diz Ejzemberg. Por outro lado, quando os pais usam somente a autoridade na educação, a criança não aprende. O ideal é dosar os dois.
"Cada casa deve ter suas regras e seus acordos com as crianças, mas a última palavra sempre é a dos pais", diz Ejzemberg.
"Às vezes o Cauan fica forçando a barra, insistindo. Quando estou bem, consigo manter o limite, mas quando estou cansada, acabo cedendo para facilitar a vida", conta Flávia.
"A paciência varia de acordo com as fases evolutivas da criança", diz Raquel. Isso quer dizer que o que funciona para uma criança pode não funcionar para a outra. Com castigo é a mesma coisa: pode adiantar ou não.
Mas se o pai optar por dar um castigo, deve fazê-lo na hora e não esperar para o dia seguinte. "A criança é imediatista, não faz a relação entre o ontem e o hoje. Se algo ocorreu, você deve ajudá-la a entender naquele momento", diz Raquel.
A dentista Ana Maria Cardoso Magno, 39, conta que seu filho Eduardo, 7, quando impedido de descer ao playground do prédio, desafia: "Você pode me bater, mas me deixe descer".
Ana Maria diz que não bate em criança. "Tento explicar, mas às vezes ele fica irritado, repetindo dez vezes a mesma coisa. Aí o jeito é castigo."
Flávia também é adepta do castigo: "Uma vez ele pegou o meu gravador sem avisar. Então o proibi de usar o gravador durante uma semana".
Flávia diz que, por estar separada, não tem mais divisão de tarefas entre os pais, de quem dá o limite. "Tenho de ser pai e mãe ao mesmo tempo, então tenho de aprender a dar uma dosada."
Raquel adverte que o adulto também deve ter paciência, prestando atenção no seu tom de voz e no seu modo de proceder. "O problema é que o adulto às vezes acha que a criança já deveria estar ciente de seus atos, e interpreta a reação dela como sendo uma manha; ele acaba ficando com raiva e não percebe que, na verdade, é uma dificuldade da criança."
A criança tem uma noção de tempo e espaço muito diferente da do adulto. Cinco minutos para ela pode ser uma eternidade. "Você deve dar esses referenciais a ela: mostrar no relógio, por exemplo, o quanto é um minuto, assim ela vai saber esperar mais", diz Raquel.
A criança também é impulsiva, depois é que vai pensar no que já fez. A tarefa do adulto é ajudá-la a perceber seu comportamento e a consequência do que fez.

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