São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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"Pegue-os, Lobo!"

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

"De noite ou de dia, firme no volante, vai pela rodovia, bravo vigilante". Assim entrava no ar o "Vigilante Rodoviário", primeiro seriado filmado na TV brasileira.
As histórias eram recheadas de correrias pelas estradas do país em velozes Sincas Chambord Três Andorinhas, em roteiros que usavam desde atrizes de nome do cinema nacional, como Lola Brah (de "Floradas na Serra"), até intrigas internacionais envolvendo a Interpol (invariavelmente se deslocando pelas serras brasileiras em Citroens último tipo).
Quando a situação parecia irremediável, o herói, o famoso vigilante Carlos (Carlos Miranda) apelava para seu mais forte aliado, o cão Lobo, usando um grito tão famoso como o "Haiô, Silver" de Zorro: "Pegue-o, Lobo". E todas as crianças do país sabiam que o melhor amigo do vigilante rodoviário iria pôr um fim na bagunça dos bandidos, que, quando muito, usavam seus DKWs em fugas alucinadas.
Lobo era o nosso Rin-Tin-Tin, a versão brasileira de Lassie, o cão que salvou a TV brasileira, pelo menos naquele tempo. Todo mundo assistia o "Vigilante Rodoviário".
Policiais, carros em desabalada carreira e cães treinados sempre foram um fetiche televisivo.
Antes da chegada da versão nacional destes mitos, Broderick Crawford atravessava as estradas americanas em Buicks titânicos em "Patrulha Rodoviária", cantando pneu e levantando poeira com seu chapéu a la Humphrey Bogart e sua cara de poucos amigos, sempre limpando a estrada dos malfeitores que colocavam em risco o "american way of driving".
Outros que rodavam sem parar, embora numa função mais social que policialesca, era a dupla de "Rota 66", George Maharis e Martin Milner. O primeiro, depois de limpar o carburador, virou cantor e chegou a fazer shows na nossa TV.
O nosso vigilante Carlos também desceu de seu carro cenográfico quando o seriado acabou, mas ao invés de virar cantor, optou por uma melhor imitação da arte, tornando-se, realmente, um vigilante rodoviário. Pelo menos, é o que diz a lenda.
Quanto ao cinema na TV, demoraria mais umas boas décadas antes de se usar película nos seriados, dando um espaço de quase 30 anos antes de "Confissões de Adolescente" surgir em filme. Ou o herói rodoviário ser substituído pelos heróis rodrigueanos de "A Vida Como Ela É" em cores fulgurantes, onde o velho Sinca Chambord é referência de época e não de heroísmo.
E não se pode esquecer que o "Vigilante Rodoviário" fez sucesso numa época que seus competidores, tais como "O Homem de Virgínia", "Bonanza" ou "Maverick", ainda andavam a cavalo e os cáctus e bolas de capim que se espalhavam pelas cidades do velho oeste pareciam pobres demais perto das belezas de Ouro Preto ou do asfalto quase branco da via Anhanguera.
Pegue-os Lobo!
Aliás, por falar em cachorro, nos áureos tempos da Cia. Cinematográfica Vera Cruz, o cão Duque tinha tanto prestígio, que era apresentado nas festas e coletivas depois de grandes estrelas da casa, como Ruth de Souza por exemplo, assim como Lassie era sempre convidada para as grandes festas da MGM, quando sentava-se ao lado de Judy Garland e Ava Gardner.
Como diria Waldick Soriano, "Eu não sou cachorro não". Se bem que, assim, eu até gostaria.

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