São Paulo, segunda-feira, 7 de outubro de 1996
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HIV positivo não sonha com Aids

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Portadores de HIV sonham pouco com a Aids e com os problemas decorrentes dela. Mas as imagens de seus sonhos revelam um "amplo processo de transformação da personalidade", diz o psicanalista Paulo Afranio Sant'Anna.
Em seu mestrado, Sant'Anna pesquisou 125 sonhos de nove pessoas infectadas. Na dissertação, analisa 74 desses sonhos, de três homossexuais masculinos.
A tese trabalha principalmente com os conceitos de Jung, "pai" da psicanálise analítica. Mas também descreve como os sonhos são vistos por diferentes linhas.
Para Freud, o sonho é "uma tentativa de realização de desejos". Já para Jung, discípulo que depois rompeu com Freud, os sonhos são uma "auto-representação, em forma espontânea e simbólica, da situação atual do inconsciente".
"Não é raro que os sonhos revelem uma combinação simbólica íntima e singular entre uma enfermidade física inegável e um dado problema psíquico", diz Jung, citado por Sant'Anna.
Isso coloca a questão de até que ponto "o equilíbrio psicológico pode ou não contribuir para um retardamento do desenvolvimento da síndrome".
A pesquisa encontrou um acentuado desequilíbrio. Mas o trabalho indicou que "o que está sendo reestruturado é uma situação psicológica que é anterior à Aids e para a qual a Aids pode assumir um papel catalisador, enquanto símbolo de um processo emergente".
A pessoa busca resolver problemas psicológicos que já tinha -como a relação com a mãe. O estudo sugere que a pessoa fala tanto da Aids, que "o inconsciente (o sonho) parece compensar a atitude consciente, desviando a atenção para as outras dimensões da experiência humana".
(FR)

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