São Paulo, segunda-feira, 7 de outubro de 1996
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Fosfértil atrai analistas e intriga o Cade

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o Joãozinho do conto infantil fosse hoje um investidor na Bolsa de Valores, não teria dificuldades em adubar seu precioso pé de feijão para alcançar as fortunas do gigante nas nuvens distantes.
As ações das empresas do setor de fertilizantes têm subido como foguetes neste ano, elevando aos céus os rendimentos dos investidores nas Bolsas.
Até sexta-feira passada, o setor era o único com quatro representantes entre as quinze ações mais rentáveis no ano, com rendimento superior a três vezes o do Ibovespa, índice das mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo.
São elas: Fertisul PN, com a terceira maior valorização dos pregões (271,43%), Manah PN (244,07%), Solorrico PN (212,93%) e Fertibrás PN (164,24%), segundo a consultoria Economática.
Com variação menor, aparecem Fertiza PN (97,24%) e Fosfértil (91,97%) -mesmo assim, no grupo das 50 ações mais rentáveis até então. No período, o Ibovespa variou 54,15% e o FGV-100 (ações de segunda e terceira linhas), 5,39%.
Nesse clube, a Fosfértil, de acordo com relatório concluído pelo Citibank na sexta-feira, seria a "semente da hora" no porta-fólio do Joãozinho contemporâneo.
Na carteira teórica de ações elaborada pelo departamento de pesquisas do Citibank, a Fosfértil responde por 6%. Outros 2% pertencem à Fertibrás, recém-admitida.
Semente "A Fosfértil é a maior empresa e a melhor opção de investimento do setor", afirma o analista Werner Müller Roger, do Citi.
Ele explica que a Fosfértil tem maior liquidez em Bolsa que as demais, isto é, tem mais oferta de compra e venda e papéis disponíveis para negociação.
Além disso, a empresa é produtora de matérias-primas -nas quais as margens de lucro são maiores- utilizadas pelas fabricantes de fertilizantes.
O recorde de preço da ação foi de US$ 7,60 em 1994. Roger acha que o papel, cotado a US$ 4,85 no último dia 30, pode alcançar o preço justo de US$ 9,69 -um potencial de valorização de 100%.
A recomendação de compra prevê um tempo de maturação de seis meses, mas tudo vai depender da situação da agricultura e da economia como um todo.
Diversas variáveis influenciam o comportamento das Bolsas, inclusive a questão da proposta de reeleição do presidente FHC -ameaçada, ou pelo menos dificultada, nas últimas eleições municipais.
Os aspectos positivos para a agricultura são: a securitização (renegociação com emissão de títulos de longo prazo) de R$ 6,2 bilhões das dívidas agrícolas e o pacote de R$ 5,2 bilhões para o financiamento da plantação da safra de verão, a partir deste mês. Também ajudará a desoneração do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre as exportações.
Cade O Citibank também recomenda a compra de papéis da Fertibrás, da Manah e da Solorrico, nessa ordem de prioridades. As três fazem parte do consórcio Fertifós, que controla 55,47% do capital total da Fosfértil e compra 45% de sua produção consolidada de matéria-prima. No final do dia, ganham com a farta distribuição de dividendos da Fosfértil (US$ 146 milhões nos últimos dois anos e meio).
Mas não são somente os resultados da Fosfértil -lucro líquido consolidado de US$ 134 milhões previsto para 1996- que chamam a atenção dos analistas.
Um processo a ser julgado neste mês pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica do Ministério da Justiça), envolvendo a formação de oligopólio (controle do mercado por um grupo de empresas) no setor de fertilizantes, está dando uma pitada de ansiedade aos investidores.
O Cade vai julgar se a compra da ex-estatal Ultrafértil pela Fosfértil, em 1993, trouxe prejuízos à concorrência. Ambas deteriam mais de 50% do mercado de alguns fosfatados, matéria-prima de certos fertilizantes.
O analista do Citibank não vê motivos para preocupação. Juntas, as empresas têm apenas 50% do mercado, afirma Roger.

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