São Paulo, segunda-feira, 7 de outubro de 1996
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Última moda na noite é 'dançar sentado'

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

A música eletrônica ganha territórios cada vez mais abstratos. Derivações como trip hop, ambient, drum & bass avançam na cena internacional e se tornam mais populares também em São Paulo. Ganham noites específicas nos clubes e têm crescimento de público.
Também são trilha sonora dos chamados chill-outs, os momentos de relaxamento depois dos clubes (leia texto nesta página).
Os CDs destes gêneros ganham rótulos à primeira vista incoerentes, como "horizontal dancin'" (dança na horizontal) e "static dancin'" (dança estática).
Estes lançamentos se multiplicam com velocidade semelhante à da primeira leva do acid-jazz, a mistura do hip hop com o jazz que assolou o mercado fonográfico no início dos anos 90.
Ainda vivo, o acid-jazz disputa hoje terreno com o trip hop e suas derivações. "Teoricamente, é um movimento; já é uma cena", diz Marcelo Shida, 28, dono da loja Mo'Better CDs, uma das mais descoladas de São Paulo para estes segmentos, procurada por DJs e sofisticados compradores.
"Estes títulos começaram a chegar ao Brasil no segundo semestre de 95 -são variações mais lentas e atmosféricas do trip hop. O mais famoso deles, a coletânea "Free Zone" (leia quadro nesta página).
Nestes segmentos, há duas vertentes. Uma americana, mais dançante, mais voltada para o tecno; outra inglesa, caracterizada também como "abstract grooves" (algo como música abstrata).
A seção inglesa muitas vezes tem a forma de "soundtracks" (trilhas). Nas coletâneas, a sequência das músicas serve para conduzir o "estado mental" do ouvinte.
Muitas vezes as faixas estão associadas à psicodelia e ao consumo de drogas como o LSD e o Ecstasy, dentro do chamado "higher state of counciousness" (estado alterado de consciência) conduzido por estas substâncias.
As músicas contêm barulhinhos, ruídos, "bleeps" e distorções, teclados atmosféricos e recursos de gravação que, sob o efeito de drogas, ganhariam outras dimensões.
Muitos clubes da Inglaterra, Alemanha e Ibiza (na Espanha) contam com salas específicas para estes sons, com DJs e ambientação especial -ventilação e lugar para sentar.
Em São Paulo, onde não existe um consumo das chamadas "dance drugs" como na Inglaterra (onde estima-se que 1 milhão de jovens tomam Ecstasy a cada fim-de-semana, os chill-outs aparecem "para baixar a energia dos clubes em algum lugar", explica Pil Marques, 25, promoter do Hell's Club.
O esquema do Hell's é after-hours (de 5h de domingo até 10h). "De início era para ser apenas uma festa depois de outra festa. Mas hoje as pessoas dormem e acordam para vir ao Hell's. De manhã, então, elas estão cheias de energia", diz Marques.
O Hell's não conta com uma área de chill-out. "É complicado, teríamos que mexer na estrutura de todo o Columbia". O Hell's ocupa o subsolo da danceteria dos Jardins.
Caráter doméstico
Os chill-outs em São Paulo acontecem em caráter doméstico. Fechadas, estas reuniões na manhã do sábado ou do domingo atendem a pequenos grupos. Muitas vezes acontecem nas casas dos DJs, onde alguns deles chegam a tocar.
Luiz Pareto, 35, seis anos como DJ, faz chill-outs em sua casa com frequência mais ou menos mensal. "Até uma certa hora é agitado; depois, fica mais calminho. O andamento do chill-out depende de quem está em casa", diz o DJ.
Pareto também tem uma noite em que toca este tipo de música, a Breakin', com o DJ Mau Mau, do Hell's Club.
Pareto abre o Breakin' com "coisas bem lentas, viajantes e arrastadas. Teve uma semana que foi dramática: pifou o estrobo e ficou todo mundo parado mesmo, olhando para a minha cara", lembra.

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