São Paulo, terça-feira, 8 de outubro de 1996
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Esterilização de mulheres cresce 49%

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

O número de casais brasileiros que optaram pela esterilização cirúrgica como método anticoncepcional aumentou mais de 40% nos últimos dez anos.
Entre as mulheres casadas ou que vivem com parceiros, o índice das esterilizadas subiu de 26,9% em 1986 para 40,1% em 1996-um aumento de 49,07%.
Entre os homens nas mesmas condições, o crescimento foi ainda maior -225%. O percentual de vasectomizados, de 0,8% há dez anos, subiu para 2,6% em 96.
Os números fazem parte da Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde realizada este ano pela ONG (organização não-governamental) Bemfam (Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil) em 800 municípios do Brasil.
Dados alarmantes
Pela pesquisa, 6,4% das mulheres com apenas um filho já se encontram esterilizadas. Com dois filhos, o percentual sobe para 42,6%. A idade média da esterilização é de 28,9 anos. Em 1986, essa média era de 31,4 anos.
A pesquisa, realizada de março a junho deste ano, ouviu 12.612 mulheres de 15 a 49 anos e 2.949 homens de 15 a 59 anos.
Em contrapartida, o uso da pílula caiu de 25,2% para 20,7% das mulheres que usam contraceptivos. Entre os homens, só 4,4% usam camisinha.
Confrontado com dados de outros países da América Latina e da África, como Colômbia, Bolívia e Zimbábue, o alto índice de esterilização no Brasil alarmou a coordenadora da pesquisa da Bemfam, Rita Badiani.
Na Colômbia, 72% das mulheres pesquisadas em 95 disseram fazer uso de algum método contraceptivo, sendo que 25,7% optaram pela esterilização.
Na Bolívia, das 45,3% que usavam qualquer método, apenas 4,6% optaram pela esterilização.
No Zimbábue, em 1994, 48,1% das mulheres pesquisadas disseram fazer uso de algum método contraceptivo, sendo que apenas 2,3% optaram pela esterilização.
Queda da fecundidade
Segundo Badiani, os dados apurados revelam que as mulheres desejam ter menos filhos e, por isso, buscam ativamente métodos contraceptivos. Foi realizada uma comparação com pesquisa semelhante, também da Bemfam, em 1986.
Badiani disse que houve um decréscimo da taxa de fecundidade. Há 15 anos, essa taxa era de 4,1 filhos por mulher. Agora, está em 2,5 filhos por mulher.
"A pesquisa confirma que hoje o tamanho ideal de família é de dois filhos", diz.
Para o demógrafo do IBGE Celso Simões, 50, a "velocidade estúpida" da diminuição da taxa de fecundidade só foi possível por causa do grande emprego da esterilização em todo o país.
A pesquisa contou com apoio, entre outros, do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), do Ministério da Saúde e do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

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