São Paulo, terça-feira, 8 de outubro de 1996
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Aids pode fazer 183 mil órfãos no país

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Estima-se em 183 mil o número de crianças brasileiras filhas de mães doentes de Aids ou portadoras do vírus HIV. Desse total de futuros órfãos da Aids, 11 mil já perderam a mãe.
O número inclui filhos portadores e não-portadores do HIV. Cerca de 28% dos que nascem de mães soropositivas adquirem o vírus por transmissão vertical, na gravidez, no parto ou no aleitamento. As outras escapam da doença.
O estudo que revela o número de crianças em risco pela Aids será divulgado hoje pelo Projeto Mundial para Órfãos, gerenciado pela Fundação John Snow, ligada à Universidade de Harvard, nos EUA.
Os números não incluem as cerca de 1.300 crianças que já morreram vítimas da Aids. Também não considera aquelas que já perderam ou perderão suas casas e famílias em consequência da doença ou morte do pai pela Aids.
"Nossas estimativas são as mais conservadoras", disse Miguel de Fontes, que dirige o Projeto Mundial para Órfãos no Brasil. Entidades internacionais como a Organização Mundial da Saúde, Unicef e Unaids -programa das Nações Unidas para a Aids- consideram órfão a criança que perde a mãe.
Uma das frentes é aconselhar a mulher com HIV ou Aids a não ter filhos. "A maioria delas sabe o risco que corre e tenta evitar a gravidez, mas ela acaba ocorrendo", diz Marinella Della Negra, do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo.
Marinella atende cerca de 450 crianças com Aids, quase todas infectadas pela mãe.
Segundo Fontes, pesquisas feitas em vários países mostram que a mulher, quando descobre que está com HIV, tem um desejo maior de ter filhos.
"É como se quisesse combater a idéia da morte com a vida que a criança representa", diz.
Para chegar ao número de 183 mil órfãos e futuros órfãos da Aids, o projeto considerou um total de 425 mil brasileiros portadores do HIV. Órgãos não-oficiais falam em 500 mil a 600 mil infectados.
No Estado de São Paulo -segundo boletim que será divulgado nos próximos dias-, os casos notificados somam 48.713, com 1.367 crianças infectadas por transmissão vertical. "Hoje há uma mulher contaminada para cada três homens, o que deve aumentar o número de crianças infectadas", diz Ione Guibu, da Secretaria de Estado da Saúde.

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