São Paulo, terça-feira, 8 de outubro de 1996
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O JUSTO E O OBSESSIVO

O presidente da República tem todo o direito de defender a emenda constitucional que lhe permite disputar um segundo mandato. É até justo dar-lhe a chance de submeter a sua administração ao voto popular, ao final do primeiro período de governo.
Mas há limites na ação que o presidente pode desempenhar com vistas a alcançar tal objetivo.
Não deveria, por exemplo, transformar o projeto de reeleição em uma espécie de obsessão, que sobrepuje todas as demais considerações de ordem política, administrativa e ética.
Já houve declarações de autoridades, como o vice-presidente Marco Maciel, segundo as quais a emenda da reeleição passou a ter prioridade sobre todas as demais reformas, inclusive as que foram propostas pelo próprio governo FHC e estão emperradas no Congresso.
Se for mesmo esse o espírito que predomina no governo, parece ultrapassada a fronteira da conveniência.
Afinal, Fernando Henrique Cardoso elegeu-se com uma série de propostas, que considera "modernizadoras" do Estado brasileiro e do próprio país. Ergueu, durante a campanha, a mão espalmada em que cada um dos cinco dedos representava prioridades concretas, para além das reformas institucionais. Nem os dedos nem as reformas propostas referiam-se à reeleição.
É até possível que o presidente tenha verificado, depois de quase dois anos de mandato, que o prazo de quatro anos é curto demais seja para deixar implantadas as reformas seja para atacar a fundo as prioridades.
Mas seria impróprio deixar-se dominar, agora, pelo projeto de reeleição, em vez de continuar trabalhando pela aprovação das reformas e pela concretização das prioridades, que correspondem às grandes carências do país (educação, saúde, agricultura, segurança e emprego).
Até porque, aprovadas as reformas e atacadas tais prioridades, a gestão FHC estará com meio caminho andado para consolidar a aprovação popular, hoje apenas regular, o que obviamente facilitará o caminho da emenda da reeleição no Congresso.

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