São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 1996
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O Corinthians, quem diria, virou time pequeno

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A contusão de Marcelinho foi a gota d'água que faltava para que se chegasse a uma triste constatação: de um ano para cá o Corinthians foi sucateado até o osso.
Cabeças de técnicos rolaram, saíram craques, entraram cabeças-de-bagre (com raríssimas exceções) -e os cartolas do Corinthians conseguiram a proeza de transformar um time que há um ano sonhava com o título mundial num timeco que busca a duras penas se classificar para a próxima fase do Brasileiro.
É duro dizer isso, mas o Corinthians hoje -principalmente agora, sem Marcelinho- é um time pequeno. Aparentemente, seus dirigentes se acomodaram à idéia de que o clube deve cumprir um papel semelhante ao que tem cumprido o Guarani: o de revelar talentos para os times realmente grandes, do Brasil e do exterior. Vide os casos de Viola, Marques e Zé Elias.
O desfalque de Marcelinho, dirão alguns, é acidental e transitório. Mas isso é tapar o sol com a peneira.
Alberto Helena Jr. já apontou claramente, neste espaço, a ligação entre a contusão do craque e o sacrifício a que ele foi submetido nos últimos tempos, carregando nas costas uma equipe fisicamente cansada e tecnicamente medíocre.
Além disso, se a ausência de Marcelinho é hoje circunstancial, ela logo será definitiva, quando o jogador se libertar da escravidão do passe.
Ausência talvez ainda mais sentida que a de Marcelinho é a da torcida corintiana. Ser fiel é uma coisa, ser besta é outra bem diferente. Quem é que vai gastar o dinheiro do ingresso e da condução para ver um timinho desses jogar, quando pode ver pela TV a grande arte de um Ronaldinho ou de um Djalminha?
Já que não conseguem mais, como em outros tempos, faturar com as rendas dos jogos, os cartolas só podem fazer dinheiro com a compra e venda de jogadores. Vão raspar o fundo do tacho antes que a nova lei acabe com sua mamata.
*
Outra prova de que o torcedor não é bobo é a confirmação do programa "Cartão Verde", da Rede Cultura, como o líder de audiência entre as mesas-redondas esportivas da televisão.
É, para dizer o mínimo, o único programa do gênero que respeita a inteligência do espectador.
Em seu congênere da Bandeirantes, o " Apito Final", a perspicácia de um Tostão é sufocada pelo egocentrismo de Luciano do Valle, pelo parnasianismo piegas de Armando Nogueira, pelas baboseiras pseudocientíficas do "professor" Mazzei.
A mesa-redonda da CNT/Gazeta, a despeito dos convidados ilustres e de alguns frequentadores respeitáveis (Alberto Helena é um deles), é uma espécie de "mundo cão" do futebol.
Reedita, de quando em quando, aqueles programas de estilo "tribunal popular" para julgar a personalidade de jogadores polêmicos como Edmundo ou Djalminha. Coloca advogados, psicólogos e videntes para palpitar sobre a vida dos jogadores e técnicos.
Em vez disso, "Cartão Verde" propõe informação, discussão de idéias e bom humor. Cartão verde para ele.

Matinas Suzuki Jr., que escreve nesta coluna às terças, quintas e sábados, está em férias

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