São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 1996
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SEGREDOS DA PRODUÇÃO

Para todos os que perguntavam como as empresas brasileiras conseguem sobreviver, apesar da redução no crescimento econômico, da apreciação da taxa de câmbio e da abertura às importações, há uma resposta cristalina: mais produtividade.
Estudos do governo federal constataram que a indústria de transformação teve ganho de produtividade de 15,17% de junho de 95 a maio de 96.
Ou seja, o custo por unidade produzida caiu, viabilizando a competição com produtos importados ou permitindo que, mesmo num ambiente de estabilidade de preços, seja possível manter ou até mesmo ampliar o volume de vendas. Como o rendimento dos trabalhadores não teve alta sequer próxima à da produtividade, cristaliza-se uma redução de custos que no limite torna viável às empresas sobreviver mesmo quando os preços finais dos produtos caem.
Esse é o "segredo" da estabilização brasileira. Quando uma empresa exportadora vê-se às voltas com uma taxa de câmbio que não acompanha a inflação ou que supostamente não compensa os aumentos de custos enfrentados pela empresa, enxugar a folha de pagamento é obviamente um dos recursos disponíveis.
Esse "segredo", entretanto, deve ser avaliado com cautela. Afinal, se é verdade que o ganho de produtividade com o enxugamento é viável, é preciso ter claro que ele tem limites.
Há basicamente duas formas de racionalizar a produção e ganhar produtividade. Dispensar trabalhadores mantendo ou aumentando a produção é a mais simples. A mais complexa é investir em novas tecnologias, nova logística na distribuição e no relacionamento com fornecedores ou no desenho dos produtos.
Demitir, ou enxugar, tem um limite físico. Mas revolucionar o processo produtivo em princípio não tem limites, pois depende do avanço do conhecimento e da administração. Feito o ajuste, resta saber se as empresas brasileiras terão nos próximos anos capacidade tecnológica e financeira para fazer a revolução produtiva, que é o verdadeiro segredo dos ganhos de produtividade.

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