São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 1996
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PPB avisa a FHC que debaterá plebiscito

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

A tese de um plebiscito sobre a reeleição surgirá, fatalmente, na convenção nacional que o PPB realizará dia 4 de dezembro, para discutir o tema.
A informação foi transmitida anteontem pelo presidente nacional do PPB, senador Esperidião Amin (SC), ao presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, adversário do plebiscito.
FHC reagiu resignadamente. "Pode ser que, em dezembro, o clima seja melhor", disse a Amin.
Talvez o presidente tenha razão, mas pelo simples fato de que, até agora, o ambiente no partido do prefeito Paulo Maluf é tão antagônico à pressa para discutir a reeleição que conseguiu adiá-la mais ainda do que se supunha.
A informação disponível até a noite de anteontem era a de que o PPB faria uma convenção dia 20 de outubro e, nos dias imediatos, encaminharia à presidência da Câmara nomes do partido para a comissão que examinará a emenda.
O presidente foi o primeiro a saber que o cronograma pepebista é outro: o partido está despachando emissários aos convencionais, para colher assinaturas da maioria deles em requerimento autorizando a indicação dos nomes, que será feita, como previsto, no dia 29.
Mas é uma decisão burocrática, que não implica qualquer definição sobre como se comportarão os parlamentares do PPB na discussão propriamente dita.
"Até o dia 26, o presidente do partido terá em mãos o quórum para indicar os nomes, mas condicionado à decisão da convenção de 4 de dezembro", informa Amin.
Amin acha que seria "quase criminoso o PPB discutir o assunto antes de um segundo turno em que está presente diretamente em 12 cidades, entre elas São Paulo, Campinas e Florianópolis".
O novo calendário do PPB adia ainda mais a discussão da reeleição. Basta lembrar que a idéia original do presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), era instalar a comissão no dia 4 de outubro.
Como o PPB vai empurrar a discussão principal até 4 de dezembro, são dois meses de atraso, o que torna altamente improvável que se vote a emenda, na Câmara, antes de terminar o mandato de Luís Eduardo na presidência.
A avaliação obtida pela Folha no Congresso é a de que FHC teme que, com outro presidente, qualquer que seja, crescerão substancialmente as dificuldades para uma votação rápida da reeleição.
Motivo: não há outro nome com o comando da Casa demonstrado por Luís Eduardo.
Insinuam-se complicações também no Senado, porque o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) desconfia que FHC trabalha, embora discretamente, contra o seu desejo de substituir José Sarney na presidência, a partir do ano que vem.
O que não deixa de criar um paradoxo: FHC não quer ficar prisioneiro de ACM, como presidente do Senado, mas adora depender do filho, Luís Eduardo, como presidente da Câmara.
O cronograma do PPB atende também o desejo do PMDB, igualmente condicionado, por decisão de convenção nacional, a só discutir a reeleição em 1997.
Com um complicador adicional para a pressa do presidente: o presidente do PMDB, Paes de Andrade, vai à Justiça se a liderança do partido decidir indicar os nomes para a comissão, por acha que contraria decisão da convenção.
No Congresso, dá-se como certo que Paes de Andrade obterá uma liminar a favor de sua tese, que será derrubada depois. Mas, aí, já se terão passado mais três a quatro semanas sem que a emenda possa tramitar.
Bem feitas as contas, o jogo parece favorecer integralmente o prefeito Paulo Maluf, que decidiu calar-se sobre o assunto até o segundo turno em São Paulo, mas não mudou a sua posição contrária à reeleição.
"Não troco o voto de Luiz Carlos Santos pela reeleição", chegou a dizer Maluf à Folha, em alusão ao apoio do ministro de Coordenação Política a Celso Pitta, candidato malufista em São Paulo.
FHC não reclamou do novo calendário do PPB. Apenas disse que quer a ajuda do partido para que a decisão sobre a reeleição seja tomada "em um prazo razoável para os interesses do país".

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