São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 1996
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Lipoaspiração é método para lá de medieval

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Nos últimos tempos a atriz e modelo Cláudia Liz andava com a bola toda. Emplacara mais uma novela, havia acabado de fazer um papel elogiado pela autora na adaptação para o cinema do romance "As Meninas", de Lygia Fagundes Telles, e tinha encontrado, como não cansava de repetir aos amigos chegados, o grande amor de sua vida. Estava inclusive programando outro pimpolho, para fazer companhia ao filho Luca, de 3 anos.
Para completar a retumbante felicidade, resolveu dar uma ajeitada no visual, coisa que o comum mortal desqualificaria em se tratando de Cláudia Liz, mas que, no caso de uma modelo profissional, faz parte da rotina.
Uma lipoaspiração. Retoque corriqueiro. Ou não? Definitivamente não. A lipoaspiração não passa de um remendo medieval, uma violência contra o corpo humano.
Tempos atrás, tive o desprazer de assisitir a uma sessão de lipo no famigerado programa "25ª Hora". Deus me livre! Para tirar uns, sei lá, 400 g de gordura do culote de uma inocente, dois doutores munidos de canoplas de meio metro de comprimento perpetravam o que mais parecia um ritual satânico. Puxa, empurra, empurra, puxa. Como se estivessem tentando remover um Scania Vabis de um atoleiro de lama. Pior é que, na operação de lipo, são extraídos no embrulho, além de gordura, uma gama variada de tecidos "nobres".
Mais grave: nessas cirurgias, que são consideradas pelos carniceiros de plantão operações de "baixo risco", o paciente é operado em clínicas domésticas, onde não existe a menor infra-estrutura.
Digamos que haja um acidente qualquer durante o procedimento. Nessas clínicas instaladas em prédios comerciais não existe nem mesmo a facilidade de remoção do paciente, posto que o elevador não comporta macas. Nem se fala de salas de UTI ou aparelhos de emergência. Como os que poderiam, imagino, ter ajudado minha amiga Cláudia Liz.
Pior: anestesias são ministradas sem a menor precaução. Cláudia sofreu choque anafilático e espasmo brônquico por ter sido operada em local indicado, no máximo, para consultas. Jamais para cirurgias onde podem ocorrer complicações.
Cláudia Liz estava no auge da vida. Só espero que os responsáveis sejam punidos.

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