São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 1996
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Uso de drogas não pode deixar de ser punido

JOÃO GILBERTO CARAZZATO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um aspecto muito discutido atualmente no esporte é o uso de drogas por atletas famosos. A Argentina promove uma "caça" aos jogadores que usam cocaína. O Brasil também teve o seu caso, com o atleta Dinei, do Coritiba.
O uso de drogas não é específico de nenhuma atividade humana. Há usuários entre atletas, advogados, artistas...
Pela legislação, quem usa drogas pode acabar preso. No esporte é diferente. Nas regras do antidoping, quem usar uma substância química proibida acabará sofrendo uma outra punição.
A pena é, geralmente, a suspensão de sua atividade como atleta. Se não houver punição, não há controle.
No caso do Dinei, muito se falou sobre um "exagero" da pena imposta: oito meses sem poder jogar futebol.
Quem determina o prazo são as confederações esportivas. Mas o jogador não poderia deixar de ser punido.
Nem ele nem o Hélcio (do Paraná). Em ambas as provas (exames de urina) foi detectado doping. A droga está lá. Se ele ingeriu, tem de ser punido.
Outro aspecto, e esse sim é mais discutível, é sobre a eficácia da cocaína e do antidoping.
O Dinei disse ter ingerido cocaína em uma festa. Só foi jogar dois dias depois. A droga já não fazia mais efeito, pois é um estimulante. Sem dúvida, não interferiu em sua atuação.
Para julgar um fato desses, deveria ser ouvido um médico, não somente advogados. Imagine esse rapaz, que estava enfrentando uma mudança de time, ficar oito meses sem poder trabalhar. Pode ter problemas sérios.
Ele, na verdade, foi punido por ter confessado o uso. A eficácia do controle antidoping é muito relativa. As drogas já conhecidas, os jogadores nunca vão usar. Eles têm uma série de maneiras de não serem pegos.
Na última Olimpíada, não tivemos nenhum caso comprovado de doping. Será que é possível? Com atletas com massa muscular extraordinária?
O doping no esporte é um problema muito grave. Apesar de poder ser "driblado", o exame deve continuar sendo feito e os culpados, punidos.
Porque senão as crianças terão um mau exemplo. É o caso do Maradona. Ele declarou ser viciado em cocaína, na época em que era o melhor jogador do mundo. As crianças poderiam tirar uma associação daí.
Se eles ingerem, como parece estar acontecendo na Argentina, podem induzir os jovens a fazer também. Isso destrói o esporte, acaba com a nação.
O Maradona, um ídolo, perdeu a chance de transmitir uma mensagem boa e otimista para seus admiradores.
O esporte está crescendo e deve haver um acompanhamento melhor. Por isso, estou organizando um curso de medicina esportiva, em São Paulo, na próxima semana. Será aberto a médicos e debaterá questões como a formação do atleta, o acompanhamento psicológico e desenvolvimento esportivo e a questão do antidoping.
A prática esportiva está crescendo muito e isso é fator de saúde. Só que é essencial ter um acompanhamento médico.

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