São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 1996
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McBride abre festival afirmando o groove

GUGA STROETER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Christian McBride é um autêntico correligionário do suingue. Ele costuma afirmar em entrevistas algo aparentemente óbvio, mas que resulta na mais energética abordagem do jazz dos anos 90: o groove (a levada) é a primeira coisa que conta na música.
O jazz que nas últimas décadas navegou por experimentalismos, fusões e reverências, nos dedos de McBride e seu quarteto, privilegia a batida.
Ontem, na abertura do 11º Free Jazz Festival em São Paulo, em show que começou às 19h14, com catorze minutos de atraso, McBride, desde a opção do repertório -que passeou de "SKJ", de Milt Jackson, a "You've Got It Bad, Girl", de Stevie Wonder-, soube, mais uma vez, ser descendente direto da linhagem de contrabaixistas do mainstream como Jimmy Blanton e Ray Brown.
Ele gosta de deixar claro que está imerso até o pescoço na aptidão de dominar as diversas tradições que desembocaram no caleidoscópio fracionado que se chama jazz.
McBride não hesita: abre mão de demonstrar sua técnica em favor do suingue e se diverte sentindo-se cúmplice de seus colegas.
Na sua composição de "Shade of the Cedar Tree", McBride atinge a hiperestesia. Na repetição de um "ostinato", ele nega o princípio da psicologia que afirma que, se um estímulo não varia, a tensão acaba por desaparecer.
Neste caso, o mesmo tema hipnotiza o público e permite que cada um perceba a música e a realidade exageradamente.
É, sem dúvida, um dos mais competentes "sideman" do momento. Como líder, como proponente de um caminho peculiar e pessoal da música, ainda há de demonstrar seu fôlego.

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