São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 1996
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Formigas oferecem movimento a Yanagi

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Yukinori Yanagi, 35, artista japonês famoso por suas formigas e bandeiras, compartilha com Kabakov uma preocupação em relação a países que não existem mais.
Quando começou a montagem de sua instalação na mostra Universalis ("Bandeira do Mundo, Fazenda de Formigas"), em que saúvas vão destruindo os símbolos de várias nações do mundo, Yanagi foi vítima da curiosidade de todos que participavam da organização da Bienal.
A grande questão era como -e também porque- um artista faz de uma colônia de formigas um "novo material". E a resposta, na fala de Yanagi à Folha, reside em uma palavra-conceito: o "movimento". Leia abaixo trechos da entrevista.
(MR)
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Folha -Como surgiu o tema das "nações"?
Yukinori Yanagi -Tem a ver com minha saída do Japão em 1988. Até então, trabalhava sempre com temas como fronteira e limite.
Folha - Essa é uma vanguarda japonesa?
Yanagi -O trabalho que eu faço se enquadra no que costumeiramemte nos acostumamos a chamar arte; e me consideram um artista. Mas, na verdade, eu faço aquilo que gosto e realmente não sei se isso é ou não uma vanguarda. Ou pelo menos não tenho essa consciência.
Eu posso responder que sim, mas também que não, em absoluto. Eu penso que inconscientemente existe uma continuidade dentro de uma história e de um tempo em que a expressão artística se manifesta.
Folha -Por que formigas?
Yanagi - Eu construo formas e, quando a forma se idealiza, ela é estática. Eu tento introduzir um outro elemento, que é o movimento. Eu sempre trabalho então com a junção desses dois elementos contrastantes: a construção e a destruição, ou algo estático e algo em movimento.
Construo as formas, as bandeiras. E existe também um outro elemento (um ser vivo, que no caso é a formiga) que vai criando o movimento e destruindo a forma que construo.
Eu já falei que coloco um outro elemento, que é a destruição desse símbolo do homem pelas formigas.
A formiga é um elemento altamente social. É um ser vivo que tem uma sociedade muito complexa, como a do homem.
Folha -E sobre o tema da Bienal?
Yanagi -Eu acho que a expressão artística que caminhava para a materialização sofre agora um novo conceito, até vanguardista, de destruição. Destrói-se tudo para começar algo novo.
É dentro desse processo que eu entendo o tema da Bienal. Dentro do meu trabalho existe a temática da raça e do país. Eu acredito que isso tem relação com a desmaterialização, o tema da Bienal.

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