São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 1996
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Clinton carrega 20 funkeiros ao palco

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Quando subir ao palco Groove do Free Jazz hoje (abrindo o festival no Rio) e amanhã (em São Paulo), George Clinton, 56, estará arrastando com ele outros cerca de 20 músicos. É uma escalação tímida: a confraria funk que chefia costuma ultrapassar 30 pessoas.
Ele não costuma sair do palco antes de três horas de show. E as apresentações do batalhão P-Funk (suas bandas-filhas Parliament e Funkadelic) não raro se transformam em "jam sessions" intermináveis, estruturadas em explosiva junção de blues, soul, jazz, psicodelia e, essencialmente, muito funk -ele, afinal, inventou o gênero com James Brown e Sly Stone.
A cornucópia hippie dos 70 -Clinton pulando de um caixão, músicos de fraldas queimando marijuana e simulando sexo no palco- talvez já não se repita, mas não há margem para caretice.
Em show recente em Nova York, ele caiu no palco vestido num lençol de estampas do "Rei Leão", da Disney -coisa parecida ele já fazia em 64, sem nada por baixo.
Barbearia
Clinton formou o grupo vocal The Parliaments em 56. A música ocupava as horas vagas de seu primeiro ofício: comandava uma barbearia até conseguir, em 62, emprego como compositor na legendária Motown, berço do soul.
Apesar de ter faixas gravadas por hitmakers como Supremes e Jackson 5, as coisas não evoluíam para Clinton na Motown. Foi necessária a migração a selos independentes para que singles melosos e quadradões fizessem algum sucesso.
Aí já florescia a contracultura, e Clinton começava a assumir as cores hippies, misturando LSD, rock, o som negro de Jimi Hendrix e o som branco de Frank Zappa.
Foi quando Clinton dividiu sua gangue em duas entidades. Parliament assumia os grooves comerciais, Funkadelic mergulhava no experimentalismo -a fronteira desmoronaria pouco a pouco.
A filosofia P-Funk se estabeleceu em slogans como "Liberte sua mente e sua bunda a seguirá".
Em 81, Clinton respondia pelo salário de mais de 60 músicos. Mergulhava no caos, a instituição P-Funk ruiu, e a política de lucro das gravadoras exigiu que ele se limitasse a trabalhos solo.
Em crise de popularidade, Clinton viu sua música ser reprocessada por funksters (Prince), poppers (Tom Tom Club), rappers (Public Enemy, De La Soul, Snoop Doggy Dog) e roqueiros (Chili Peppers).
Nesse embalo, em 96 George pôde reformar seus P-Funk All Stars e lançar disco autônomo e livre de pasteurização. A onda vem bater no Brasil e promete um encerramento de gala ao 11º Free Jazz.

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