São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 1996 |
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Elaboração vocal se destaca no novo CD
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Não, isso não quer dizer que haja qualquer decréscimo de potência criativa. O CD é maravilhoso. A psicodelia hippie ainda existe, nas guitarras de "If Anybody Gets Funked Up", na calmaria lisérgica de "Summer Swim". Mas já não é ela quem define a arte P-Funk. Aqui, Clinton investe numa escorchante fileira de obras-primas melancólicas, a um tempo calmas e tensas. O clima jazzy se insinua a toda hora, provando que profusão de sopros não significa vulgarização -como querem fazer crer certas bandas pop brasileiras. Clinton 96 é clima, ritmo, balanço, groove -justifica-se assim sua inclusão no palco Groove de um festival que se autointitula de jazz. Quando se aproxima do hip hop ("Mathematics", "Hard as Steel") , Clinton não se faz cópia da cópia, mas põe os pingos nos "i"s: foi ele quem inventou o rap. Matreiro, ainda lembra que é autor do que há de melhor na discothèque ("Rock the Party"), em Michael Jackson ("Flatman & Bobbin"), em Prince (que lutou para igualá-lo e já desistiu) -"T.A.P.O.A.F.O.M." é o melhor disco de Prince. Mas em outro detalhe mora o sublime do disco: acumula-se aqui a coleção mais arrepiante de vocais negros que um extraterrestre poderia recolher nos 90. São 33 vocalistas (!) dispersos -ou concentrados- por 14 faixas. O impossível acontece na melô "New Spaceship", de vocais soul que vão de fato ao fundo da alma, e em "T.A.P.O.A.F.O.M. (Fly Away)", despedida da nave-mãe. É o grande momento que encerra a epopéia: clima, drama, coros gospel perfeitamente sincronizados e muita melancolia arquitetam o desejo de voltar o disco imediatamente após 75 minutos de funk. Aí está o segredo do chefão: o senso negro de agremiação materializa-se numa intensidade que nenhum branco jamais copiará e finca no reino da música a insuperável superioridade negra. (PAS) Disco: T.A.P.O.A.F.O.M De: George Clinton & P-Funk All Stars Lançamento: Sony Preço: R$ 20, em média Texto Anterior: Clinton carrega 20 funkeiros ao palco Próximo Texto: MAM abriga 250 toneladas de ferro Índice |
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