São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 1996
Próximo Texto | Índice

O RECADO DO ELEITOR

O quadro final das eleições do último dia 3 revela que a distribuição do poder entre os partidos políticos no Brasil pode estar passando por algumas sensíveis e importantes mudanças. Com o fortalecimento do PT, PSDB e PPB -partidos que, a grosso modo, representam a esquerda, o centro e a direita, respectivamente-, surge no país um cenário político diferente do registrado logo após as eleições gerais de 94.
O pleito municipal deste ano revelou a diminuição da força eleitoral de dois grandes poderosos na atual composição do Congresso Nacional: PFL e PMDB. Com 11% dos votos nas capitais e 6,3% nas cidades médias do interior, o PFL mostrou que, se ainda é poderoso nas discussões parlamentares, não está conseguindo transformar essa capacidade em bons resultados nas urnas. O PMDB, com 8,2% nas capitais e 11,8% nos municípios médios do interior, enfrenta situação ainda mais grave.
Mais de uma década depois de formada a aliança que elegeu indiretamente Tancredo Neves para a Presidência, os dois partidos da chamada Nova República parecem distantes dos anseios do eleitorado -pelo menos em relação às questões municipais, em jogo no pleito deste ano.
Em política, as previsões estão longe de ser infalíveis, especialmente em um país de conhecidas surpresas como o Brasil. Mas, se o resultado e a tendência deste ano se repetirem no pleito de 98, o país poderá presenciar o que seria a principal transformação na composição do Congresso Nacional desde a redemocratização.
Os partidos mais bem votados nas eleições municipais, PT, PSDB e PPB, saem, em princípio, na frente não só na corrida presidencial, já que cada um tem um forte candidato -Lula, Fernando Henrique Cardoso, se for aprovada a possibilidade de reeleição, e Paulo Maluf, respectivamente. Os três também saem fortalecidos para a disputa para o Congresso e as Assembléias Legislativas.
O PT conseguiu reconhecimento pelo trabalho que realiza em algumas cidades que governa. Obteve, com isso, 20,3% dos votos das capitais e 14,6% das cidades médias do interior. Deixou de ser apenas um partido de oposição para ganhar a confiança de parte dos eleitores como uma legenda de bons administradores -Porto Alegre, com a terceira administração petista seguida garantida no primeiro turno, seria o exemplo mais claro dessa conquista.
O PSDB, favorecido pelo prestígio de Fernando Henrique e do Plano Real, com votos bem distribuídos que lhe renderam um bom resultado no interior, ocupou um espaço antes dominado pelo PMDB. Seu desempenho atingiu 17,8% no interior -o melhor resultado entre todas as legendas- e 16,5% nas capitais. O partido do presidente da República, apesar da derrota na cidade de São Paulo, teve ainda boas votações em capitais importantes, como Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
O PPB, impulsionado pela popularidade de Maluf na capital paulista, que levou ao surgimento do fenômeno Celso Pitta, chega à melhor posição alcançada em termos nacionais desde que, sob a sigla PDS, o próprio prefeito paulistano foi derrotado no Colégio Eleitoral de 85. Conquistou 17% dos votos das capitais e 12% nas cidades médias do interior.
PMDB e PFL terão que trabalhar muito para conquistar, nas eleições de 98, o terreno perdido. A distribuição dos votos registrados no pleito municipal indica que as grandes bancadas que ambos ocupam no Congresso, resultado da liderança conquistada nas eleições de 94, e mesmo a presença no ministério do governo FHC não lhes garantirão os votos de que necessitam para continuar à frente no cenário político.
Se não foram decisivos para questões de âmbito nacional, os números do pleito do último dia 3 sugerem que a batalha entre os partidos pode estar sendo definida -ao menos em parte- em debates regionalizados, nos municípios, mais próximo do eleitor do que contendas travadas na Câmara dos Deputados e no Senado.
A corrida para as eleições gerais de 98 -tanto para a Presidência como para o Congresso- começa sob um novo panorama. O eleitor acaba de dar um primeiro recado. Em 98, apresentará sua mensagem final.

Próximo Texto: DINHEIRO FÁCIL
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.