São Paulo, sábado, 12 de outubro de 1996
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Álcool substitui maconha, diz especialista

PAULO SILVA PINTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O álcool está tomando o lugar da maconha, nos anos 90, como uma droga de iniciação dos adolescentes, na avaliação da especialista suíça Eva Tongue.
Diretora-executiva do Conselho Internacional de Álcool e Outras Dependências, ela participou em Brasília do 1º Encontro Latino-Americano de Comunidades Terapêuticas, encerrado ontem.
"Nos anos 60, os jovens achavam que álcool era droga dos velhos. Hoje, a maioria dos adolescentes entre 14 e 15 anos já experimentou álcool pelo menos uma vez", disse ela à Folha.
Uma experiência recente de prevenção a drogas ilegais realizada em Hong Kong mostra com clareza a substituição.
Com o sucesso da campanha, o tráfico de entorpecentes despencou, mas a venda de álcool cresceu na mesma proporção.
Tongue defende que os pais e governos prestem mais atenção ao consumo de álcool, "que mata muito mais que as drogas ilegais em todo o mundo".
Segundo ela, a maioria dos países, mesmo na Europa, faz "vista grossa" para as leis de idade mínima de venda de álcool.
Crescimento
Nos primeiros anos da década de 90, o consumo de bebidas alcoólicas cresceu nos cem maiores países do mundo, exceto na França, de acordo com dados da indústria citados por Eva Tongue.
A maconha, segundo ela, continua preocupante, mas seu consumo atual tem características diferentes do ocorrido nos anos 60, "quando a geração hippie passava dias e noites seguidos fumando".
Apesar disso, ela é contra a legalização da maconha, principalmente pelos subprodutos da planta. O óleo tem alto teor de THC (o princípio ativo).
Tongue e o presidente da Associação Européia de Comunidades Terapêuticas, Lothar Schõfer, foram personagens dos desentendimentos entre os governos do Brasil e dos EUA sobre drogas.
O presidente do Conselho Federal de Entorpecentes, Matias Flach, recebeu um comunicado da Embaixada dos EUA informando que havia "desconforto" com a presença dos dois suíços no encontro, promovido pelo Ministério da Justiça.
Logo depois, o governo brasileiro recusou ajuda norte-americana de US$ 710 mil para o programa de combate a drogas por considerá-la muito pequena.
"Nós europeus crescemos, estamos adultos e não precisamos que os norte-americanos nos digam o que fazer", disse Lothar Schõfer.
Ontem, último dia do encontro das comunidades terapêuticas, os participantes definiram a reivindicação de um assento no Conselho Federal de Entorpecentes.

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