São Paulo, sábado, 12 de outubro de 1996
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Separatismo do Timor leva Nobel da Paz

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os timorenses dom Carlos Filipe Ximenes Belo e José Ramos-Horta venceram o Prêmio Nobel da Paz de 1996 "por seu trabalho por uma solução justa e pacífica para o conflito do Timor", segundo o comitê do prêmio na Noruega.
Eles são dois dos três principais líderes da resistência do Timor Leste (ex-colônia portuguesa no Sudeste Asiático) contra o governo indonésio (leia nesta página). É a primeira vez que os ganhadores do Nobel da Paz falam português.
Ramos-Horta disse estar feliz com o prêmio, mas lamentou que o principal líder da resistência timorense, Xanana Gusmão, que está preso em Jacarta, a capital da Indonésia, não tenha sido escolhido.
Foi uma das decisões mais polêmicas da história do Nobel da Paz, instituído em 1901. "A questão do Timor Leste estava próxima de se tornar um conflito esquecido e nós quisemos contribuir para mantê-lo em evidência", disse Francis Sejersted, presidente do comitê Nobel. "Esperamos que esse prêmio carregue uma mensagem ao governo indonésio no sentido de mudar sua política".
O comitê disse que, desde 1975, "a Indonésia oprime sistematicamente o povo timorense".
Reação negativa
O governo indonésio reagiu dizendo que Ramos-Horta fez muito mal ao país e não merece o prêmio.
Portugal, que tem um tenso relacionamento com a Indonésia por causa do Timor Leste, disse que o prêmio deverá servir para pressionar Jacarta. EUA, ONU e Anistia Internacional se disseram satisfeitos com a decisão.
Ramos-Horta e dom Ximenes Belo (bispo católico de Dili, a capital da região) vão dividir um prêmio de US$ 1,12 milhão. Dom Ximenes estava rezando uma missa quando soube da premiação.
A maioria dos 800 mil habitantes do Timor Leste são católicos, e o governo indonésio reprime o uso do idioma português.
"Considero uma vitória para todos os timorenses e para todos os indonésios", disse o bispo. "A paz pode ser alcançada por meios não-violentos." Ramos-Horta, que migrou para a Austrália três dias antes da ocupação indonésia no Timor Leste, se disse surpreso.
Após o prêmio, o governo da Noruega propôs mediar negociações entre o Timor Leste e a Indonésia. Os chanceleres de Portugal, Jaime Gama, e da Indonésia, Ali Alatas, já se reuniram duas vezes neste ano e devem voltar a se encontrar em dezembro.
A Indonésia invadiu o Timor Leste em 1975, após Portugal se dispor a dar independência à região. Logo depois, a Indonésia declarou o Timor Leste sua 27ª Província. A ONU considera Portugal a potência administradora da área.
Analistas acham que a irritação da Indonésia com o prêmio pode deteriorar a situação -o temor de uma represália é o aparente motivo para a não premiação do líder preso Xanana Gusmão.
Os cinco membros do comitê que escolhe o Nobel decidiram-se entre 120 candidaturas -entre as quais 29 organizações.
A cerimônia de entrega do prêmio está prevista para 10 de dezembro. Até a véspera, os favoritos eram o mediador do processo de paz na Bósnia, o americano Richard Holbrooke, e o dissidente chinês Wei Jingsheng.

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