São Paulo, domingo, 13 de outubro de 1996
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Movido a 'hora extra' do trabalhador, mutirão é barato, mas muito lento

FÁBIO SANCHEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A ex-prefeita Luiza Erundina (PT) concluiu apenas 12% das habitações populares construídas em regime de mutirão. No final de sua gestão, havia 1.406 moradias prontas e 10.391 inacabadas.
Segundo as previsões da prefeitura do PT, o tempo necessário seria um ano para desapropriação do terreno e 18 meses para obras.
No Jardim Apuanã (zona norte), três mutirões começaram em novembro de 1990 e, dois anos depois, estavam atrasados em pelo menos nove meses.
Com a eleição de Maluf, as verbas foram cortadas e os favelados usaram suas próprias economias. Os primeiros moradores se mudaram no final de 95. Hoje, apenas metade das casas está construída e não há previsão para o término.
"O trabalho aqui recompensa, mas é muito duro. Quem trabalha fora tem que gastar os finais de semana no mutirão", diz a dona-de-casa Maria Aldemisa Silva Pinheiro, do Jardim Apuanã.
Se os mutirões terminassem nos prazos planejados, o tempo que eles tomam dos futuros moradores -os finais de semana de pelo menos 6 meses- assusta alguns.
"Trabalhei um ano em um mutirão em Taipas (zona oeste) e ele não saiu do chão", queixa-se Cleusa Ramos, presidente da Associação dos Trabalhadores Sem Terra São Paulo, que opta pela compra de terrenos para que cada família construa a sua própria casa.
"O mutirão significa uma superexploração da força de trabalho da população", afirma Cândido Malta, professor de planejamento urbano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Para Malta, porém, o sistema é o mais viável para grandes centros, porque pode atender mais pessoas do que a verticalização de favelas.
"O mutirão é barato e organiza o povo. O povo aprende inclusive técnicas de construção, quer dizer, profissionaliza as pessoas. É altamente educativo pelo fato de a população conseguir dar sua contribuição ao problema da moradia", defende Erundina.
Cohab
Apesar de Erundina destacar em seu programa político os mutirões, o número de casas feitas pela Cohab na sua gestão é bem maior: foram 24,7 mil moradias.
A ex-prefeita não ressalta esse número porque a maioria dessas obras foi contratada por Jânio Quadros. Erundina contratou apenas 320 novas casas pela Cohab.

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