São Paulo, domingo, 13 de outubro de 1996
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Prédio do Cingapura 'esconde' caos de barracos sem água, luz e esgoto

VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A 79 dias do fim de seu mandato, o prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, "urbanizou" apenas 2,6% dos barracos que havia prometido.
"Urbanizar" significa levar água, luz, esgoto e ruas de asfalto até os barracos que ficam atrás dos prédios do Projeto Cingapura.
A meta, estabelecida pela própria prefeitura, previa o beneficiamento de 3.807 barracos. Por enquanto, foram urbanizados apenas 100.
O objetivo do Cingapura é melhorar a qualidade de vida dos favelados, sem removê-los para a periferia. De 38 favelas beneficiadas pelo projeto, apenas 10 tiveram todos os barracos eliminados.
Nas outras 28, o Cingapura previa a remoção de parte dos moradores para os prédios para abertura de espaço no meio dos barracos. Assim, é possível criar ruas para a entrada de ambulâncias, caminhões de lixo e policiamento.
Segundo o secretário municipal da Habitação, Lair Krahenbuhl, "até o final do ano a meta de urbanização da prefeitura estará cumprida em 65%". Isso significa urbanizar 2.374 barracos em 79 dias.
Classes na favela
Maluf reconhece que o projeto está criando duas classes de favelados: os que se mudam para os prédios e os que ficam nos barracos.
"Em curtíssimo prazo, o Cingapura cria castas de favelados na mesma favela. Sem demagogia, nós encontramos o caminho e fizemos a nossa parte. Que os futuros prefeitos façam as deles", diz.
Maluf entregou até hoje 4.456 apartamentos Cingapura e, segundo sua previsão, deverá entregar outros 4.062 até dezembro. Deixou também contratados mais 8.161.
Até o final da sua gestão, terão sido beneficiados 39 mil favelados -2% do 1,9 milhão de pessoas que vivem irregularmente na cidade.
"É evidente que a quantidade de favelas onde existe Cingapura é pouca. São Paulo tem 444 anos e não é possível eu resolver tudo em quatro anos", afirma Maluf.
Cobrança do barraco
Quando a prefeitura tiver urbanizado as favelas, pretende cobrar também do morador do barraco.
O plano é reparcelar os lotes de terra -deixar cada barraco em um terreno mínimo exigido pela legislação- e vendê-los aos moradores, que receberão escrituras.
"Isso tem um custo e deverá ser cobrado, mas ainda não temos claro como será feito", diz João Leopoldo Camargo, superintendente de Habitação Popular da Secretaria da Habitação. Os moradores terão de pagar aproximadamente R$ 23,00 por mês, durante 25 anos.

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